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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Como interpretar as atitudes do seu cachorro

Nós, as treinadoras da Lord Cão, somos com freqüência entrevistadas por jornalistas ou convidadas a escrever artigos sobre cães, para serem publicados em jornais, revistas e outros sites. Sempre contribuímos com grande prazer, pois um dos principais trabalhos da Lord Cão é distribuir conhecimento, objetivando ajudar o máximo de pessoas possível. Algumas de nossas aparições na mídia podem ser conferidas aqui mesmo no blog, na seção "Na mídia" que fica do lado direito da tela.

Entretanto, devido às óbvias limitações de espaço (principalmente em jornais e revistas), nem sempre os nossos artigos são reproduzidos na íntegra. Nesses casos, é necessário resumir o texto para que possa caber na área que foi destinada para ele. Quando isso acontece, sempre nos sentimos como o autor que teve seu livro transformado em filme. Não dá para reproduzir na tela tudo o que está escrito no papel, não é mesmo? Mas isso dá uma peninha... Hehehe!!!

Foi por causa disso que resolvemos abrir um espaço aqui no blog para publicar as versões completas de alguns dos nossos artigos. E, sempre que estiver disponível, um link para a versão como foi publicada será incluído na seção "Na mídia". Um desses artigos está reproduzido abaixo. Espero que gostem!

Artigo escrito para a Revista Sendas (do grupo CompreBem) em julho de 2008
"COMO INTERPRETAR AS ATITUDES DO SEU CACHORRO"

Aprender a "ler" o seu próprio cachorro, ou seja, a interpretar os comportamentos caninos, é uma das ferramentas mais importantes que os donos de cães devem aprender, para facilitar a convivência. Da mesma forma como nós humanos, cada cão tem uma personalidade diferente, e portanto reage de forma diferente aos mesmos estímulos. Por causa disso, o aprendizado no dia-a-dia é fundamental, pois a convivência ao longo dos anos nos ensina os hábitos e manias dos nossos amigos peludos. Conhecendo o comportamento rotineiro deles, podemos identificar mais facilmente as reações típicas para cada situação.

Entretanto, existem algumas atitudes que podem ser observadas na maioria dos cachorros, e é exatamente esse o assunto dessa matéria. Vamos listar aqui as reações mais típicas para alguns dos comportamentos mais freqüentes dos cães. Mas é importante frisar que, para "ler" de forma correta um cachorro, é preciso analisar todo o conjunto da postura que ele está apresentando no momento. Considerar um rabinho abanando como sinal de felicidade é um erro muito comum e que pode levar a conclusões totalmente contrárias à realidade. Um rabo abanando pode significar uma gama grande de emoções, dentre elas a felicidade, sem dúvida, mas também a agressividade e a dominância. Portanto, para correr um risco menor de errar, a melhor saída é examinar o bicho como um todo, e se deter mais especificamente na cabeça, que é a extremidade que tem dentes!

• ANTES DE MORDER

Os sinais de agressividade são normalmente claros o suficiente. Dentes à mostra, rosnados e/ou latidos, corpo ligeiramente posicionado para trás, olhar fixo. Além disso, nos cães de pelagem curta ainda podemos visualizar mais claramente o eriçar dos pêlos das costas, que ficam em pé. Esse conjunto todo funciona como um sinal de alerta, antes da mordida propriamente dita. Mas nem todos os cachorros são assim tão claros em suas demonstrações de agressividade. Alguns apenas levantam os lábios e rosnam baixinho. Outros simplesmente mudam o olhar, que fica muito fixo e sério. E há ainda os que demonstram sinais tão sutis que são quase imperceptíveis. É como se eles pulassem as "preliminares" e fossem direto para a mordida. A forma de reagir depende do cachorro, da raça e do tipo de agressividade. Há cães que mordem por dominância, outros por medo, ou ainda para defender o território, só para citar alguns exemplos.

• QUANDO ESTÁ DOENTE

O primeiro sintoma de problemas de saúde é uma mudança brusca no comportamento rotineiro. Um cachorro muito dócil que fica agressivo de repente, ou um cachorro que sempre fez xixi no lugar certo e de uma hora para outra começa a errar, podem ser sinais de que alguma coisa está errada. Devemos investigar também quando o peludo pára de comer, de beber água ou de fazer as necessidades. Se o cão está com dor na pata, como no caso de uma unha quebrada ou de um espinho encravado, ele costuma lamber incessantemente o local. Dor nos ouvidos normalmente faz o peludo sacudir muito a cabeça e coçar a região com uma freqüência acima do normal. Se vier acompanhado de cheiro forte e secreção escura nos ouvidos, pode ser indício de otite. Dor interna, como a causada por gastrite ou gases, pode resultar em arqueamento das costas e inquietação, ou seja, o cachorro não permanece deitado num mesmo lugar por muito tempo.

• ESTRESSADO OU ANSIOSO

Xixis e cocôs fora do lugar podem indicar diversas coisas, dentre elas estresse. Um cachorro que acompanha o dono por todos os cantos da casa, como uma sombra, sofre muito quando precisa ficar sozinho. Ao contrário do que muita gente pensa, viver grudado nos donos, querendo colo o tempo inteiro, não é nada saudável para o bicho, que pode terminar desenvolvendo Ansiedade de Separação. Os cães que apresentam esse problema sofrem horrores sempre que os donos precisam se ausentar, seja por um dia inteiro ou por apenas alguns minutos (por não terem noção de tempo, eles não percebem a diferença). Os sintomas variam desde pequenos choramingos a verdadeiros escândalos sonoros, por vezes acompanhados de destruição da casa ou de si mesmos (lamber-se sem parar até causar feridas) e de muitos xixis nos lugares errados.

• TENSO OU NERVOSO

Os cães podem ficar tensos por diversos motivos, dentre eles medo e submissão. Como o próprio nome sugere, um cachorro tenso mantém retesados diversos músculos do corpo. Alguns cães, por exemplo, comprimem os lábios e quase chegam a fazer um "biquinho". Outros, ao contrário, esticam os lábios para trás como se fosse um sorriso. Há também aqueles que ainda transpiram pelas almofadas das patas, da mesma forma que há humanos que suam as mãos. Alguns cachorros demonstram medo se encolhendo inteiros, abaixando o rabo e às vezes fazendo xixi. Outros usam a velha abordagem que diz que o ataque é a melhor defesa, e quando estão com medo demonstram sinais de agressividade. Existem até aqueles que, quando estão nervosos, começam a tremer da cabeça aos pés. A submissão apresenta sinais parecidos com os do medo, sendo que alguns cães ainda levantam uma das patas ou viram totalmente de barriga para cima.

• QUANDO QUER BRINCAR

A pose tradicional de um cachorro que está convidando para uma boa brincadeira é abaixar as patas da frente e levantar a parte de trás, como se estivesse se espreguiçando. Há os que são mais diretos e simplesmente trazem na boca o seu brinquedo preferido. Outros colocam a cabeça no colo do dono e fazem aquele bom e velho olhar que diz: "brinca comigo". Alguns são menos discretos (e mais mandões) e literalmente cutucam os donos com uma das patas (nem um pouco agradável). Os mais efusivos ficam dando pulinhos de um lado para outro, ou até mesmo pulões de fazer inveja aos melhores ginastas. Seja como for, brincar com o peludo é importante, além de muito legal, e observar dois ou mais cães brincando é igualmente divertido. A brincadeira deles pode parecer "bruta" aos nossos olhos, mas prestando atenção dá para notar que as mordidas são de mentirinha e que eles quase não fecham a boca. Quando um se excede mais do que devia, o outro encerra imediatamente a brincadeira e assim eles vão aprendendo a dosar a força.

Para escrever tudo o que há para ser dito sobre o comportamento canino, mesmo de forma resumida, seriam necessários vários livros daqueles bem pesados. Os tópicos acima dão uma idéia geral das principais atitudes que podemos observar nos nossos amigos de quatro patas. As emoções dos cães são muito mais básicas do que as nossas, e elas se fundamentam em instintos herdados há muitas e muitas gerações. Sendo assim, é correto afirmar que os cães sentem medo, dor (física ou emocional), lealdade e respeito, por exemplo. Mas não é certo dizer que eles demonstram sentimentos complexos (e na maioria das vezes negativos), como ciúme, culpa e vingança, tão típicos dos humanos.

O que é interpretado como ciúme, na verdade é posse. O cão se considera o legítimo proprietário e possuidor de todos os direitos sobre determinado objeto ou sobre determinada pessoa, permitindo ou proibindo a aproximação de terceiros. O que é interpretado como culpa, na verdade é submissão, o cão simplesmente reage àquela postura do dono. O cachorro sabe que um olhar de raiva significa uma baita bronca, e tenta (inutilmente, tadinho) aplacar a ira do dono com uma postura submissa. E a tão erroneamente famosa vingança é na realidade estresse ou dominância. Aquele xixi fora do lugar pode indicar que o peludo tem Ansiedade de Separação ou até que ele se acha o dono do pedaço.

Os cães são incrivelmente inteligentes, da maneira deles (é complicado comparar inteligências entre espécies diferentes). Eles aprendem a "ler" os humanos muito melhor do que nós mesmos sabemos, porque eles são bastante observadores. Diversos pequenos sinais que fazemos automaticamente, como franzir a testa e cerrar os punhos quando estamos com raiva, são um letreiro em neon para os cães. Eles aprendem em pouco tempo a associar os nossos gestos, posturas corporais e expressões faciais com as atitudes que tomamos em seguida, e simplesmente reagem de acordo. Para a maioria dos cachorros, a coleira e a guia significam um bom passeio, e eles demonstram felicidade e euforia. Já para outros, esses mesmos objetos são o indício de uma visita ao veterinário (coitados, vivem presos num mundinho limitado dentro de paredes e muros), e eles se escondem com medo.

O aprendizado dos cães é baseado em associações, em tentativas, erros e acertos. Uma associação que gera um resultado positivo e prazeroso para o cachorro fica fixada de forma intensa na memória, e tende a ser repetida até se tornar um hábito. Por exemplo, se ele ganhar um petisco todas as vezes que fizer xixi no lugar certo, vai tentar acertar cada vez mais. De forma contrária, uma associação que gera um resultado negativo para o cachorro tende a ser abandonada e esquecida. É por isso que o treinamento com recompensa (petisco, "muito bem", brinquedo ou carinho) é muito mais produtivo do que o treinamento com punição.

É importante frisar que a associação só acontece como desejado se a causa e o efeito distarem entre si de no máximo poucos segundos. Ou seja, só adianta recompensar ou reclamar com o cachorro durante ou imediatamente após o ato. Passados ínfimos 5 segundos, o cachorro já fará a associação (positiva ou negativa) com o próximo evento qualquer que vier a seguir. Em outras palavras, não adianta absolutamente nada o dono brigar com o cachorro quando chega em casa e encontra um xixi no lugar errado. O cachorro vai associar a bronca com a chegada do dono e não com o xixi no tapete.

Escrito por:
Sandra Régia - 2008
Treinadora Especialista em Comportamento Canino
Lord Cão - Treinamento de Cães Ltda.
sandra@lordcao.com.br
Fones: (81) 3341-1472 ou (81) 9994-5631
http://www.lordcao.com.br/
(Este artigo está registrado na Biblioteca Nacional e tem seus direitos autorais protegidos por lei. É permitida a sua reprodução sem alterações desde que sejam colocados o nome da autora e o link para a webpage da Lord Cão)

UPDADE: O artigo foi publicado na Revista Sendas número 39 de agosto de 2008. Cliquem na imagem para ampliar.


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