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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Segurança canina polêmica no Recife

Do site do Jornal Diário de Pernambuco, matéria de capa da edição de 10/07/2008.

Cães viram seguranças de ruas

GUARDA // Acompanhados por funcionários de empresas terceirizadas, rottweilers e pastores alemães atuam na Zona Norte do Recife

Cansados dos constantes assaltos ocorridos na porta de casa, moradores de bairros da Zona Norte do Recife estão apostando em um novo perfil de "segurança particular". Ele não reclama do trabalho, tem um faro aguçado e percebe a presença de suspeitos num raio de até um quilômetro. Para tentar diminuir a violência, casas e edifícios de Casa Forte, Rosarinho e Campo Grande decretaram a volta do cão de guarda. Treinados e acompanhados por seguranças de empresas terceirizadas, rottweilers e pastores alemães tentam intimidar a ação dos bandidos nas ruas e calçadas. Os clientes que já aderiram à moda comprovam a eficácia da medida, apesar do alto preço do serviço. O custo mensal é de, no mínimo, R$ 3 mil.

Desde que passou a contar com a presença de um rottweiler na frente de casa, o aposentado Pedro Peixoto, 74 anos, diz estar mais seguro. Morador da Rua Mário Sete, no bairro de Campo Grande, ele afirmou que os assaltos na área aconteciam a qualquer hora do dia ou da noite. "Agora, com o cachorro e o vigia andando pela calçada de tarde e de noite, os roubos diminuíram. Com os animais é mais difícil os ladrões aparecerem", disse. Ele e o vizinho, que cria outros cães, resolveram contratar os serviços de uma empresa de segurança particular há cerca de dois meses. "Foi o jeito que encontramos para garantir a nossa proteção, não é? Já cansei de chamar os policiais e eles não aparecerem", desabafou.

Além do aposentado, moradores da Rua do Chacon, em Casa Forte, e da Rua Doutor José Maria, no Rosarinho, adotaram a medida. A síndica do Edifício Emília Costa, no Rosarinho, convocou uma reunião com os representantes de outros dez prédios para implantar o sistema. "Já colocamos o sistema de câmeras, de alarme e de infravermelho. Nada adiantou. Os assaltos aqui na rua acontecem quase diariamente. Também devemos apelar para os cachorros", comentou Lídia Paredes. Cães trabalhando na segurança de pessoas já é realidade em capitais como Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR).

Segundo um dos proprietários do Canil Colosso, Marcos Aurélio Silva, a procura pelo serviço aumentou cerca de 40% nos últimos meses. A empresa atende clientes em escalas de 8h, 12h e 24h. Nesses casos, há rodízio de homens e de animais. "É bom esclarecer, no entanto, que o cachorro vai auxiliar o segurança. Primeiro o cão vai perceber a presença de pessoas estranhas. Em seguida, o homem vai perceber o comportamento do bicho e entrar em contato por rádio com os porteiros dos prédios ou os policiais que ficam nas guaritas das casas. Esses acionarão a Polícia Militar através do 190", informou.

Marcos assegurou que as ações não visam acabar com os ataques a ladrões armados, nem pôr a vida do animal em risco. Muito embora admita que os cães são adestrados e podem avançar nos bandidos. As raças mais usada são rottweiler e pastor alemão. Antes de iniciar as atividades nas ruas, os seguranças passam por treinamentos com os cachorros que variam de três dias até oito meses, de acordo com uma pesquisa feita pela equipe do Diario com firmas que atuam na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Policiamento - Garantir a segurança da população nas vias públicas é um dos deveres da Polícia Militar. Procurado pela reportagem, o comandante do Policiamento da Capital, Coronel Albino Pereira, afirmou desconhecer o serviço de vigilância com cães. E estranhou as diversas ocorrências denunciadas pelos moradores da Zona Norte. "Já temos um policiamento atuando nesta área, mas estamos levantando os horários de maior índice de ocorrências para intensificar a presença dos policiais", garantiu.


Prática é considerada ilegal

Apesar de bem intencionada, a utilização de cães nas calçadas de casas e edifícios é considerada uma prática ilegal pela Polícia Federal, instituição responsável pela organização das atividades de segurança particular no estado. Segundo o chefe da Delegacia de Segurança Privada da PF, Álvaro Lajes, o serviço é legitimado pela portaria 387/2006/ DPF quando permite a presença de cachorros adestrados nas ações de vigilância patrimonial. Ou seja, apenas no interior de residências e prédios.

"Se for exercida nas calçadas, a atividade é configurada como ilegal. Primeiro porque deixa de ser segurança privada, já que os seguranças e os cães estarão na rua. Segundo porque esse serviço está usurpando a função que deve ser exercida pela Polícia Militar do estado. Os policiais são os responsáveis pela segurança da sociedade", justificou o delegado federal. O aposentado Pedro Peixoto, morador do bairro de Campo Grande, afirmou, entretanto, que quase não existe policiamento em sua rua. "Pelo menos com o cachorro os ladrões ficam mais temerosos", disse.

Usar seguranças com cães nas calçadas é crime com detenção que pode variar de três meses a dois anos, mais aplicação de multa com valor a ser determinado pela Justiça. Além dos donos das empresas que prestam o serviço, as punições também se estendem a quem as contrata. "A Polícia Federal regulamenta a segurança particular, mas o registro das práticas ilegais fica a cargo da Polícia Civil. Quem quiser denunciar deve prestar queixa nas delegacias dos bairros", orientou.

Assim como os seguranças que fazem rondas nas ruas com cachorros, os vigilantes particulares que trabalham com armas nas calçadas também estão exercendo atividades consideradas ilegais pela PF. "Por conta da violência, isso acaba sendo uma prática comum. É muito fácil encontrar vigias noturnos, por exemplo. Mas é da Secretaria de Defesa Social (SDS) o dever de garantir o reforço no policiamento das ruas com grande índice de ocorrências", comentou Álvaro Lajes. De acordo com as leis vigentes, somente dos muros ou das guaritas para dentro das casas ou prédios é permitida a presença de homens com cães de guarda.

Serviço ainda divide opiniões

O novo serviço de segurança particular adotado por residências da Zona Norte do Recife, que utiliza cães de guarda, dividiu opiniões nas associações de defesa dos animais. Nenhum presidente de associação entrevistado pelo Diario, no entanto, foi favorável à ação sem antes fazer uma série de ressalvas. Alguns representantes, inclusive, questionaram o tratamento recebido pelos cachorros que desempenham a função de "vigilantes". Os contrários à atividade alegaram que ela deixaria o animal exposto à violência da sociedade, sujeito a pancadas e até tiros dos bandidos.

Para a presidente da Associação de Amigos Defensores dos Animais e Meio Ambiente (Aadama), Maria Padilha, os cães que atuam no setor de segurança, assim como os outros animais, devem ter o bem-estar garantido pelos criadores. "Esse cachorro deve ter uma área para se exercitar, outra para descansar durante o expediente, além de uma alimentação de qualidade. O animal também precisa de treinamento adequado para evitar incidentes com outros cachorros de menor porte ou crianças", explicou. Ela afirmou que entende o emprego dos cães de guarda, mas que os direitos deles devem ser respeitados.

A opinião de Lys Reis, membro da Associação dos Amigos e Protetores dos Animais (Aapa) é mais contundente. "Não sou a favor disso. De jeito nenhum", declarou. Ela acredita que o cachorro ficará exposto à violência. "As pessoas querem se proteger e, em nome disso, usam os animais. Mas quem vai brigar pela integridade deles? E se eles levarem um tiro dos assaltantes?", questionou.


Do site do Jornal Diário de Pernambuco, edição de 11/07/2008.

Segurança // PM coíbe guarda com cães em ruas

A Polícia Militar prometeu fechar o cerco junto às empresas de segurança particular que utilizam cães de guarda em frente a casas e edifícios de bairros da Zona Norte do Recife. A iniciativa social, tomada para diminuir o número de assaltos na região, foi tema de matéria publicada ontem pelo Diario. Apesar de bem intencionada e eficaz, de acordo com informações de moradores entrevistados, a medida é considerada ilegal pela Polícia Federal, já que garantir segurança nas calçadas é dever da PM. Por isso, ontem à noite uma guarnição policial esteve nos locais para coibir a presença de vigilantes com cachorros.

Ontem à tarde o comandante do Policiamento da Capital, Coronel Albino Pereira, convocou uma reunião com o comandante do 13º Batalhão, Major Clênio do Nascimento, para tratar do assunto. "Não tínhamos conhecimento do uso de cães nas calçadas. Montamos um esquema para investigar esses serviços e, em seguida, levaremos os casos para a Delegacia do Espinheiro", comentou o major. Ele é o responsável pela região onde estão localizados os bairros citados na reportagem (Rosarinho, Campo Grande e Casa Forte). "Se necessário, os animais que estiverem pela rua serão apreendidos pela Companhia Independente de Policiamento com Cães da PM", alertou.

A segurança particular em calçadas é crime com detenção que pode variar de três meses a dois anos, mais aplicação de multa determinada pela Justiça. Apesar de ilegal, o cão de guarda surgiu como opção da população contra a ação dos bandidos na Zona Norte. Por deficiência da PM na área. O comandante prometeu reforçar o policiamento no local. Os moradores podem repassar informações sobre as ocorrências registradas em suas ruas através do endereço eletrônico comando-13dpm@hotmail.com.

O major ressaltou que os cães, quando usados por seguranças clandestinos, também podem se tornar um perigo para a sociedade. "Imagine se um cão, que pode pesar até 70kg, entra num colapso nervoso por estresse? Ele pode atacar uma criança que estiver passando pela calçada ou estranhar e avançarem cima do próprio vigilante que o conduz", disse. Ele informou que situações como essas são comuns. Até mesmo em animais considerados dóceis, como o macaco. "É só lembrar do ataque que aconteceu no Horto de Dois Irmãos", comentou.

Em Campo Grande, rottweiler circula com um segurança pela Rua Mário Sette

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