•▄▀• POSTAGENS MAIS RECENTES

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Bicho não é brinquedo

Do site da Revista Vida Simples da Editora Abril, edição de julho de 2005. Uma reportagem simplesmente *ex-ce-len-te*.

Animais de estimação nos dão amor incondicional, melhoram nosso estado de espírito e até nossa saúde. Nada mais justo que retribuir essa felicidade.

Há um ano, mais ou menos, decidi experimentar a vida fora de São Paulo e empacotei minha casa rumo ao Nordeste. Num caminhão, foi a mudança. De avião, seguimos eu, minha mala e mais duas caixas de transporte contendo 12 quilos de gato – o peso que meus dois felinos vira-latas, a Cuca e o Chicó, representaram para a companhia aérea. Muita gente achou graça da minha excentricidade: “Você vai levar os gatos?!?”, surpreendiam-se. Ora, era evi-den-te que eu ia. Jamais me ocorreu outra hipótese. Por mais trabalho que tenha dado (a burocracia exigida para levar um bicho a bordo é um teste de paciência), os dois são parte da minha família. O vínculo, a alegria de poder compartilhar com eles meu dia-a-dia e o aprendizado que resulta desse compromisso valem mil vezes o esforço. Sabe a célebre frase de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”? É exatamente isso. Ou pelo menos deveria ser.

“Infelizmente,muitas pessoas que se encantam com um filhote numa loja de animais não se dão conta de que levar um bicho para casa significa assumir um contrato de fidelidade que pode durar muitos anos, o tempo de vida do bicho”, afirma Marco Ciampi, presidente da Arca Brasil, uma das primeiras ONGs brasileiras a difundir o conceito de posse responsável, um conjunto de atitudes que visam a ética, o respeito e o bem-estar animal. Está lá, na Declaração Universal dos Direitos dos Animais – é, eles têm uma, proclamada pela Unesco, em 1978: “O animal que o homem escolher como companheiro nunca deverá ser abandonado”. Mesmo assim, só no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, cerca de 60 cães e gatos (muitos, inclusive, de raça) são despejados por dia pessoalmente por seus donos. Os motivos para o abandono variam de explicações como “ah, ele não sabe se comportar”, até “ela está velha demais” ou “ficou grande demais para meu apartamento”.

Certamente você já ouviu falar de que ter um bicho faz bem ao humor e até à saúde. Nos últimos anos, dezenas de pesquisas se empenharam em mostrar o poder da amizade com animais sobre problemas como hipertensão, depressão e até sobre a qualidade de vida de doentes crônicos. Mas será que nós, humanos, sabemos fazer bem ao humor e à saúde de nossos bichos? Hummmm… Nem sempre. Mesmo que você não seja tão frio para abandoná-lo à própria sorte e esteja cheio de boas intenções. “As pessoas, em geral, são bastante sensíveis à causa dos animais”, comenta Ciampi. “O problema é que, na mesma medida em que há simpatia, há desinformação.” Bichos têm, sim, emoções como alegria, tristeza e medo, mas mostram isso de uma maneira que nem sempre a gente entende. Esforçar-se para compreender o universo dos outros seres vivos que convivem conosco e tratá-los com respeito e responsabilidade é condição essencial para viver de forma ética e em equilíbrio.

Conheça a seguir quais são os erros mais comuns que cometemos com a bicharada e tire ainda mais prazer e alegria dessa relação.

Bicho para quê?

Essa é a primeira pergunta que todo mundo deveria se fazer antes de comprar ou adotar um mascote. Se a resposta for “para convivência e amizade”, bingo! Cães e gatos são grandes companheiros, que precisam e gostam do contato próximo com seus donos. Mas há duas respostas erradas bastante freqüentes. A primeira delas: “Porque as crianças querem”. Adotar um animal deve ser uma decisão de toda a família, e os pais precisam estar conscientes de que, por mais que os filhos prometam cuidar dele, vai, sim, sobrar trabalho para os adultos. (Na prática, todo o trabalho sobra para os pais e/ou para a diarista, afinal os filhos têm mil outras prioridades: escola, inglês, cursinho, natação, judô, balé, brincadeiras, estudos, namoros, vestibular, internet, balada... Sempre pinta uma desculpa para deixar o bicho de lado e aí a responsabilidade de educar, tratar e passear com o cachorro sobra para os adultos). Além disso, como não têm noção de que cães e gatos também sentem frio, fome, dor e tristeza, crianças com menos de 6 anos não são uma companhia segura, especialmente se ele for filhote.

Outra motivação equivocada é ter um animal “para proteção”. Confinar um cão no fundo do quintal e privá-lo do convívio da família imaginando que assim ele será mais bravo é um engano perigoso. “O correto é apostar na inteligência do animal, socializá-lo e adestrá-lo adequadamente (em obediência básica do tipo "senta", "deita", "fica" e "junto"), para que ele saiba distinguir quando deve ou não atacar”, afirma a veterinária Hannelore Fuchs, de São Paulo, especialista em comportamento animal. Em vez de dar um destino tão miserável a uma vida, que tal instalar equipamentos eletrônicos de segurança? Dá menos trabalho e sai muito mais barato (e mais seguro para todo mundo, porque um cão anti-social é um perigo para a própria família).

Sinal amarelo

No caso de cães e gatos, xixi fora do lugar, agressividade, hiperatividade, destruição de móveis e excesso de ruídos são algumas das principais causas de abandono – para espécies exóticas, como cobras e lagartos, é mais comum o bicho crescer além do que os donos imaginavam. É preciso saber, porém, que isso não ocorre por má intenção do animal. Bichos não possuem sentimentos humanos complexos como vingança, culpa ou ciúmes, afirma o psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade de Harvard, autor do livro Wild Minds (em português, “mentes selvagens”, inédito no Brasil - na época da reportagem em 2005). Para eles, tudo é uma questão de medo, tédio, tristeza e atenção.

Em outras palavras: por trás de um cão, um gato ou um papagaio mal comportado, pode haver uma criação inadequada na infância, falta de atenção, excesso de energia para gastar ou simplesmente estresse. (Nenhum animal se torna bem educado da noite para o dia e sem muito empenho por parte da família. Ele não nasce sabendo e nem entende instruções fixadas na porta da geladeira! Todo cão passa pelas mesmas fases de amadurecimento que nós: infância, adolescência, idade adulta e velhice. Cada fase tem as suas características próprias. É natural para um filhote, por exemplo, fazer bagunça, roer coisas e errar o lugar do xixi! Se ninguém ensinar como é o certo, ele não tem como aprender sozinho!).

Mas tudo tem solução, dizem os especialistas, e o mais importante é encarar o distúrbio como um sintoma de algo a ser tratado. Se possível, com ajuda profissional (da Lord Cão, é claro! Hehe!). Bater no animal, além de ser um ato covarde, só fará com que ele se torne mais medroso e inseguro. Converse com seu veterinário. Muitas vezes, basta direcionar o comportamento para algo não destrutivo, como garantir ao seu amigo mais brincadeiras (assim como mais exercício e regras a serem seguidas).

Focinho de um…

Além dos traços físicos, cada raça possui características temperamentais e necessidades bastante distintas. (Escolher uma raça só pela beleza é um erro muito grande). E é preciso ver se elas se adaptam a você e ao seu estilo de vida, para não sofrer mais tarde. Levar para um apartamento cães de caça como um dachshund (o famoso salsichinha), que adora correr e cavocar a terra, ou deixar a maior parte do dia sozinhos um collie ou um terrier, que carecem de muita atenção e estimulação, é sinônimo de problema. “Informar-se sobre o animal antes de levá-lo para casa é uma forma de respeito a ele e o único meio de atender às suas necessidades básicas”, afirma a veterinária e etóloga Rubia Burnier. Há um tipo de bicho, porém, que não tem restrição e é quase unanimidade entre os especialistas. Sabe qual? O vira-lata. “Ele tem mais capacidade de se adaptar aos diversos ambientes, é o mais independente, o mais fácil de trabalhar e o mais fiel”, diz Rubia. Além disso, é o mais saudável geneticamente, pois não foi submetido aos sucessivos cruzamentos consangüíneos que os criadores fazem nas raças mais “puras”.

Bibelô da mamãe

Essa costuma surpreender muitos donos que se acham bonzinhos: viver com o bicho sempre no colo e mimá-lo como um bebê é péssimo para a saúde psicológica dele. “O animal desenvolve dependência do dono e sofre uma angústia profunda sempre que se separa dele”, diz Rubia. Quem passa o dia inteiro fora e, à noite, decide compensar dando atenção exclusiva, também erra: isso faz com que sua chegada fique supervalorizada, levando o bicho, muitas vezes, a passar o resto do dia plantado na porta esperando – o que, convenhamos, não é vida.

Se você gosta realmente de seu amigo, precisa ensiná-lo a ficar feliz também sozinho. Uma das melhores formas é dar-lhe o direito de viver com um companheiro (de preferência do sexo oposto, castrando ambos) da mesma espécie (pode ser um gato também, se o cachorro se der bem com felinos), criando dois animais (só não vale deixar ambos dependentes de você). Outra é acostumá-lo gradativamente a ser mais independente e fazer com que ele associe sua ausência com algo prazeroso, como uma caixa de brinquedos que o bicho acessa somente quando fica só.

Questão de limites

Permitir que o cão durma na sua cama ou suba no sofá é outra atitude para a qual os especialistas torcem o nariz. “Isso estimula o instinto de dominância do animal, o que pode levar a vários distúrbios de comportamento mais tarde”, afirma Rubia. O bicho deve poder circular pela casa, mas tem que saber que há regras a serem respeitadas, como, por exemplo, deitar-se somente em sua própria almofada, no chão. Não precisa ter pena. Os cães, por exemplo, são animais que vivem em matilha. Para eles, a hierarquia é fundamental. Eles ficam perdidos quando não entendem qual posição ocupam no grupo: se o lado dos dominantes ou o dos dominados – isso para não falar nos casos em que se convencem de que são os reis da casa e passam a redecorá-la ao gosto canino.

Educação vem do berço

Além de limites, cães, em especial, precisam de educação. A lógica é a mesma das crianças: ninguém se educa sozinho. As técnicas de treinamento, acredite, também seguem os princípios da psicologia infantil: reforçar os comportamentos positivos e nunca usar de violência. O trabalho de adestramento dura cerca de seis meses, deve ser feito por um profissional especializado (as meninas da Lord Cão!) e não se restringe a ensinar ao bicho truques engraçadinhos: ele aprende a se comportar diante de outras pessoas, a respeitar ordens, a conviver com estímulos como carro e barulho, entre outras habilidades fundamentais para a boa convivência. “É uma forma de se fazer entender pelo animal”, diz Rubia.

Prole sob controle

Castração. A palavra, sem dúvida, é horrível: lembra mutilação, censura, agressão. Talvez por isso, muitos donos tenham tanta resistência e pena de esterilizar seus animais. Grande engano, dizem os especialistas. “Esse é um dos principais atos da posse responsável”, afirma Hannelore. Só assim se podem evitar as crias indesejadas e a superpopulação de bichos abandonados, causa de um interminável ciclo de sofrimento e crueldade. Por mais que você consiga donos para uma ninhada, jamais poderá ter certeza de que eles, e seus futuros filhotes, serão bem tratados. “Para o animal, não há vantagem alguma em deixar que ele se reproduza”, explica Hannelore. Pelo contrário: a castração, uma cirurgia de recuperação rápida, diminui as chances de tumores nas fêmeas e de inflamação da próstata e testículos nos machos, além de acabar com vários comportamentos sexuais indesejados, como a agressividade, a vontade de fugir para cruzar ou a necessidade de demarcar território com urina (e fezes).

Se depois de ler tudo isso você passou a pensar duas vezes antes de trazer a companhia de um animal para a sua vida, ótimo: era essa a intenção. Significa que você acaba de ganhar um atestado de dono responsável – mesmo que, depois de refletir, tenha chegado à conclusão de que, por enquanto, o melhor para o seu caso seja curtir esporadicamente as estripulias do bicho de algum amigo. Quem resolve abrir o coração, no entanto, garante que vale a pena. E mais: descobre que, no fundo, nem dá tanto trabalho assim. Como diz o veterinário americano Marty Becker, autor do best-seller O Poder Curativo dos Bichos (Bertrand Brasil), estreitar o relacionamento com um animal não é algo que se faça apenas por ele, mas por você. “As pessoas com os vínculos mais profundos com seus bichos de estimação são as que obtêm os maiores benefícios para a saúde”, afirma. Diz aí: existe remédio ou tratamento mais divertido?

Dez mandamentos do bom dono

- Antes de adquirir um bicho, considere seu tempo médio de vida. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos necessários para mantê-lo e verifique quem cuidará do animal nas férias e feriados.

- Prefira animais de abrigos públicos e privados (vacinados e castrados), em vez de comprar por impulso.

- Informe-se sobre as características e necessidades da espécie escolhida – tamanho, peculiaridades, espaço físico necessário.

- Não deixe seu animal sair à rua sozinho e, quando passear com ele, use coleira. Isso evita problemas para ele, para você e para os outros. Em casa, no entanto, não mantenha o bicho acorrentado.

- Cuide da saúde do animal. Providencie local e alimentação adequados (não dê sobras de comida, que em geral não atendem às necessidades nutricionais do bicho). Não deixe água estagnada no pote, vacine, dê banho, escove e exercite-o. Quando estiver doente, leve ao veterinário.

- Zele também por sua saúde psicológica. Dê atenção, carinho e ambiente adequado a ele. Não o castigue nem maltrate.

- Eduque o animal, se necessário, por meio de adestramento, mas respeite suas características.

- Ao sair na rua com seu cachorro, recolha a sujeira que ele fizer. Essa é uma regra básica de civilidade e higiene.

- Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses de sua cidade.

- Evite crias indesejadas. Castre machos e fêmeas. A castração é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contra-indicações.

(Fonte: Arca Brasil, Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal)

PARA SABER MAIS

LIVROS
• O Poder Curativo dos Bichos, Marty Becker (Bertrand Brasil)
• Adestramento Inteligente, Alexandre Rossi (CMS)
• Guia do Cão, Joan Palmer (Estampa)
• 97 Maneiras de Fazer Seu Cachorro Sorrir, Pat Doyle e Jenny Langbehn (Sextante)
• Gatos e Gatinhos, Lydia Darbyshire (Edições 70)
• Wild Minds, Marc Hauser (Penguin UK)
• Manual do Cachorro e Apostila de Treinamento de Obediência, ambos da Lord Cão

SITES
www.arcabrasil.org.br, site da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal
www.hsus.org, Humane Society of the United States
www.vetmovel.com.br, site da veterinária Dra. Rubia Burnier, com dicas e artigos sobre comportamento animal
www.lordcao.com.br, site da Lord Cão

Um comentário:

  1. ameii essas postagens :D
    amoo cachorros ; amo os meus cachorros sãão muiitoo importantes pra miim. E o que vc disse relamente é verdade e até aprendi algumas coisas nesses assuntos relatados ai ;
    vs poderia postar até dicas de como cães e gatos viverem bem ; apesar de o gato ser filhote e o cachorro tem uns 2 anos ( meu caso)

    ResponderExcluir

•▄▀• OUTRAS POSTAGENS NOS LINKS ABAIXO