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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As pessoas e seu relacionamento com os cães

Um dos principais trabalhos que faço na Lord Cão é passar conhecimento para as pessoas, explicando porque os cachorros fazem o que fazem e como elas devem proceder para resolver eventuais problemas de comportamento dos peludos. Um dos problemas mais frequentes é quando o dono não gosta "tanto assim" de cachorro, mas termina cedendo ao apelo dos filhos e leva para casa aquela bolinha de pelos linda, mas que em uma semana se transforma num verdadeiro diabinho da Tasmânia.

É um erro gravíssimo, que gera 7 pontos na carteira, levar um cachorro para casa sem gostar "tanto assim" de cachorro, só porque os filhos prometeram de pés juntos que vão se responsabilizar pelo bichinho, cuidar de tudo, limpar a sujeira, dar banho, escovar o pelo e passear tooodos os dias. Eu sinceramente espero que ninguém realmente realista ache que uma criança, um pré-adolescente ou mesmo um adolescente vai ter tempo e disposição de cuidar integralmente de um cachorro.

Considerando a escola, o curso de inglês, a natação, o balé, o judô, o cursinho pré-vestibular, as provas, a namorada ou o namorado, as baladas, os amigos, a faculdade, a internet, o celular, o MP3, a TV, os games, etc., etc., etc., falta tempo para se dedicar ao cachorro. Nessas idades as prioridades são outras e o cachorro termina sendo um companheiro para apenas meia hora de brincadeiras. Sobra então tudo para os pais, que não gostam "tanto assim" de cachorro. E é aí que os problemas começam.

Cachorros dão *M-U-I-T-O* trabalho e geram *M-U-I-T-O-S* gastos, sendo ainda totalmente dependentes dos humanos durante toda a vida deles, que dura em média (apenas) 10 ou 15 anos. Os filhotes têm uma energia infindável, destroem coisas caras, soltam pelos pela casa toda, mordem, pulam nas pessoas, fazem xixi e cocô no lugar errado, rasgam roupas, cavam o jardim, comem as plantas, latem de noite, etc., etc., etc.

Os cães também entram na adolescência, lá pelos 8 meses de idade, e passam por todos os problemas típicos do aumento no fluxo de hormônios: eles testam a paciência dos donos até além do limite, desobedecem, se tormam mandões e voluntariosos, por vezes agressivos, montam nas almofadas e nas pernas das pessoas e muitos começam a marcar território dentro de casa. Vale lembrar ainda que os cães não amadurecem até mais ou menos uns 2 anos de idade. No caso do xixi no lugar certo, por exemplo, eles só se tornam confiáveis lá pelos 6 meses de idade. E mesmo assim eles podem começar a errar de novo, quando marcam território.

Todo e qualquer cachorro precisa ser escovado, precisa tomar banho, tomar remédios, tomar vacinas, precisa passear todos os dias e precisa interagir com a família. Todo e qualquer cachorro fica doente, pega carrapato, vomita pelo chão, tem diarreia, engole o que não deve, passa mal durante a madrugada e precisa pelo menos uma vez na vida ser levado de urgência para o veterinário. Os cães também ficam velhinhos, cegos, surdos, banguelas, impacientes, cheios de dor, com artrite, com dificuldade para se locomover e com incontinência urinária. Nessa idade eles requerem cuidados especiais, gastos especiais e uma dose extra de paciência e carinho por parte dos donos.

Por tudo isso, as pessoas que não gostam "tanto assim" de cachorro não deveriam ter um cachorro. É injusto para a pessoa e para o cachorro. Essas pessoas deveriam escolher como pet um animal mais fácil, como um coelho ou uma chinchila, que dão muito menos trabalho e vivem menos. Um cão também não é uma boa alternativa para quem quer apenas proteger a casa, deixando o bicho preso durante o dia e restrito ao quintal durante a noite. Os cães não são simples ferramentas de trabalho, eles têm sentimentos, eles sofrem, sentem medo, dor, solidão. Eles precisam se sentir membros da família, precisam brincar e interagir com os donos, tanto os cães de colo quanto os cães de guarda. Os cães que vivem isolados não são felizes.

Eu costumo classificar as pessoas em 3 tipos básicos, de acordo com o grau de afinidade em relação aos cães. Esses tipos são tão diferentes entre si quanto água, óleo e vinagre. E é importante respeitar essas diferenças, pois é total perda de tempo tentar convencer uma pessoa a mudar de tipo ou tentar explicar os porquês de suas atitudes a quem tem o tipo diferente do seu. Insistir só vai gerar conflitos e desgastes emocionais. Cada pessoa é o que é e, quando se trata de cachorro, normalmente uma só entende as razões da outra quando ambas são do mesmo tipo. E que tipos são esses?

As pessoas do tipo 1 são aquelas que realmente GOSTAM de cachorro. Quando eu digo *gostam de cachorro* é na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe. Essas pessoas desenvolvem um vínculo emocional extremamente forte com seus cães, eles são verdadeiramente membros da família. Mesmo quando o cachorro está coberto de lama, fedido de vômito, sujo de cocô ou cheio de carrapatos, quem gosta de cachorro vai lá e limpa o bichinho com o mesmo carinho de sempre. Quem gosta de cachorro vira a madrugada com o peludo quando ele está doente, conhece o significado de cada latido e não imagina a vida sem um companheiro de quatro patas. Quem gosta de cachorro não se incomoda com pelos soltos, baba e lambidas. Quem gosta de cachorro pesquisa todo tipo de informação sobre eles na internet e/ou em livros, não mede esforços para proporcionar o bem-estar do peludo e vive comprando presentinhos pra ele.

As pessoas do tipo 2 são aquelas que ACEITAM cachorro. Na minha opinião, esse é o tipo mais frequente. Muitas dessas pessoas têm um cão, mas normalmente são aquelas sobre as quais eu comentei nesse post, que cedem à pressão dos filhos ou que querem só um cão de guarda. Não há um vínculo emocional muito forte. Outras não têm cachorro por opção, mas até fazem festinha quando vão na casa de alguém que tem. Essas pessoas se relacionam bem com os peludos quando esses são comportados e quando estão limpinhos. Quando o cachorro desenvolve problemas, ele pode acabar sendo trocado por outro. Quando a vida do dono se altera de alguma forma, como no caso de uma mudança de casa ou do nascimento de um filho, o cachorro pode ser passado adiante. Normalmente essas pessoas gostam de fazer um cafuné na cabeça do peludo, mas pouco mais do que isso. Outro exemplo de pessoa do tipo 2 é o cônjuge de uma pessoa do tipo 1, que aceita dividir a casa com um cachorro, mas que não se envolve diretamente nos cuidados.

As pessoas do tipo 3 são aquelas que NÃO GOSTAM de cachorro, seja por medo ou por falta de afinidade mesmo. Esse é o tipo mais fácil de identificar, pois ou a pessoa tem pavor de cachorro ou acha loucos de pedra todos aqueles que gostam e que aceitam cachorro. Quem não gosta de cachorro não suporta os pelos, as lambidas, o cheiro e os latidos. Algumas pessoas do tipo 3 não toleram nem a proximidade de um cachorro. Normalmente são aquelas que vêm com a velha (e ilógica) comparação entre cachorro e criança, achando um verdadeiro desperdício e um absurdo o tempo e o dinheiro que se gasta com os peludos. Essas pessoas usam sempre aquele argumento super batido da música que diz "troque seu cachorro por uma criança pobre". Acham que cachorro só serve para trazer problemas e despesas. Essas pessoas dão a um cachorro a mesma importância que a um copinho descartável, e estão sempre prontos para aconselhar alguém a se desfazer do peludo.

Eu sou uma pessoa do tipo 1, com muito orgulho, e você?

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