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quarta-feira, 30 de abril de 2008
Sofia - fox paulistinha
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Dono bem-comportado... cachorro feliz
Eles estão em toda parte. Segundo a Secretaria Especial de Defesa dos Animais, há 1 milhão de cachorros na cidade (do Rio de Janeiro), de mimados shitzus a pobres vira-latas – e feras de todo tipo, que podem atacar, ferir e matar. Ou seja, existe um cão para cada seis cariocas. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Município do Rio de Janeiro tem cadastradas cerca de 3 500 lojas de produtos para animais na capital. Considerando-se a população de 600 000 cães com dono, a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimento para Animais de Estimação (Anfalpet) calcula um movimento em torno de 48 milhões de reais por mês em alimentos, cuidados médicos e mimos. Os números impressionam, e cada vez mais se torna necessário que regras básicas de boa educação sejam cumpridas para que haja uma convivência saudável e, sobretudo, civilizada entre humanos e a turma de quatro patas. Veja Rio ouviu especialistas em comportamento animal e etiqueta para chegar a uma lista de dez mandamentos a serem cumpridos por quem sabe que ter um bicho de estimação implica respeitar o espaço alheio, mantê-lo preso na coleira fora de casa, limpar imediatamente sua sujeira e não permitir que ele perturbe o próximo.
Roberta e Valentina no Rio Design Leblon: ter um bicho de estimação implica respeitar o próximo
1) Cachorro não é gente. Não o trate como tal
Que eles são fofos, ninguém discute. Que dá vontade de mimá-los também é fato. "Mas é sempre bom ter em mente que cachorro é cachorro e gente é gente", diz a artista plástica Ira Etz, dona do labrador Lady e do animado springer spaniel Poker, de oito meses. "Não se pode cobrar do bicho o comportamento de uma criança, achar que ele sabe que está agindo errado quando rói um móvel, por exemplo." A adestradora Cláudia Pizzolatto, certificada pela Associação Nacional de Treinadores de Cães dos Estados Unidos, critica a tendência à humanização dos animais. "Há oferta excessiva de roupinhas, coleiras, brinquedinhos, e ao mesmo tempo existem expectativas injustas que podem dar um nó na cabeça do bicho", afirma Cláudia. "Ele precisa de espaço para ser simplesmente cachorro." Um ponto em comum entre crianças e bichos é a necessidade de limites claros. "Os animais se tornam neuróticos de acordo com a personalidade de seus proprietários", explica o especialista em comportamento animal José Pereira. "Devem ser tratados como amigos, nunca como filhos." Passar o tempo todo no colo do dono, por exemplo, não é bom para a saúde psicológica do bicho. "Há pessoas que, quando entram em casa, ficam grudadas no animal o tempo inteiro", aponta a adestradora Beatriz Duarte. "Quando elas saem, o cão chora por se sentir abandonado. É preciso estimular sua independência."
Ira Etz e Poker: paparicos e limites para travessuras
2) Imponha limites. Há espaço para um líder: ou ele ou você
Não existe democracia no mundo dos cachorros. Existe hierarquia. Se não enxergam um líder na matilha ou percebem sua fraqueza, eles tentam assumir esse posto. "É necessário deixar claro quem é que manda na casa", afirma a adestradora Beatriz Duarte, da Lord Cão. "Ao subir no sofá, o bicho tem de saber que está subindo porque o dono permitiu." Quando os limites não são traçados com clareza, a agressividade muitas vezes se volta contra o próprio dono. "Ele pode rosnar e até morder. Para o animal, é uma forma de correção." Não adianta empregar um tom tatibitate de quem fala com uma criança, o mesmo usado para fazer agrados. "O cão não entende o que você diz a ele, apesar de algumas pessoas terem essa convicção", explica In Coelum Perdigão, consultora, criadora e juíza de concursos de cães de raça. "Adote um tom firme e diferente do normal na bronca." Ela só funciona se for dada imediatamente. "Ralhe na hora certa, mas principalmente recompense o bom comportamento", acrescenta In Coelum. "As pessoas tendem a exagerar nas punições. É melhor exagerar na festa." O bicho pode ter liberdade para circular por toda a casa, mas deve respeitar o espaço dos moradores.
3) Adestre seu bichinho
O filhote bagunceiro não vai adquirir rudimentos de boas maneiras espontaneamente. Aos três meses, com a vacinação completa, ele está pronto para começar a ser educado. "No início, as lições se voltam para o dono. São conselhos sobre o que ele deve esperar de sua relação com o cão e como ela deve ser", diz Janildo Santana, dono da empresa Passeio Bom para Cachorro, com setenta clientes de quatro patas. "Desde cedo, é importante que o filhote conheça outros cães e outras pessoas para se socializar." As aulas acontecem sempre na presença do dono e os ensinamentos devem ser postos em prática diariamente. "Mais do que ensinar comandos como ‘senta’, ‘junto’, ‘deita’, ‘fica’, o objetivo é ajudar os dois a se entenderem", afirma Cláudia Pizzolatto, que comanda a escola de treinamento Lord Cão. O treinamento básico leva de dois a seis meses, tempo em que o bicho aprende a não roer os móveis, não pular em cima das pessoas e se acostumar com o barulho de carros. Uma das partes mais críticas da educação canina, para os donos, é ensinar o animal a fazer as necessidades no lugar certo. "Festeje quando ele acertar. Mostre o lugar certo quando ele errar, mas nada de esfregar o focinho dele na sujeira", indica a instrutora Beatriz Duarte. Algumas vezes, os donos procuram as aulas quando o problema já está criado. A publicitária Ana Cláudia Villaça precisou de ajuda para controlar os latidos de Ice Cube, seu cocker spaniel. "Ele latia sempre que eu saía. Os vizinhos reclamavam", conta. Com as aulas e muita paciência, em seis meses Ice tornou-se menos ansioso e menos barulhento.
A adestradora Beatriz e seus "alunos": os cães precisam saber quem manda na casa
4) Praia e calçada são públicas, não privadas
Por maior que seja a tentação de levar o amigão para aproveitar o espaço e a liberdade, praia não é playground de cachorro. Ostensivamente desrespeitada, a Lei Municipal nº 20225/2001 determina que cães não podem transitar na areia em horário nenhum, com exceção da Praia do Diabo, no final do Arpoador – mesmo assim, devem estar com coleira e guia. Na manhã ensolarada do último dia 17, Veja Rio encontrou uma variedade de cães de pequeno, médio e grande porte se esbaldando nas areias de Ipanema, na maioria das vezes sem coleira. Soltos, longe dos donos, os bichos com freqüência fazem o que não devem na areia. "As fezes de qualquer animal contêm bactérias", diz a veterinária Christianne Moll. "Contaminam o ambiente, causam doenças e favorecem a proliferação de insetos." Existem doenças, como a ancilostomose, que podem ser contraídas por humanos ao pisarem no chão contaminado. Sem falar da chatice que é estar relaxando no sol e levar uma chuveirada de areia de um cão mais saliente. Uma das regras básicas da boa convivência entre donos de cachorro e o resto do mundo é recolher a sujeira que ele deixa pelo caminho. Outra lei municipal, a de nº 3273/2001, estabelece multa de 50 reais para o dono ou acompanhante que não fizer a limpeza dos dejetos. Entre 2001 e 2007, houve apenas 26 notificações por escrito e uma única multa aplicada em uma reincidente dona de totó da Rua Rainha Elizabeth, em Copacabana.
Ipanema: a lei que proíbe cães na praia é ignorada; no Jardim Botânico, associação de moradores distribui adesivos em campanha contra a sujeira
5) Na rua, só com coleira, guia e focinheira (quando necessária)
Por mais que o cão pareça bem-comportado, nunca se devem dispensar a coleira e a guia de condução, acessórios previstos em lei, ao levá-lo para passear. "Os acidentes acontecem quando ele está solto", afirma a veterinária Christianne Moll. Você acha que o seu é um santo? Não há garantias de que o do vizinho também seja ou mesmo de que a natureza não fale mais alto. "Se forem machos, pode haver briga", diz a adestradora Cláudia Pizzolatto. "E uma cadela no cio pode fazer um animal habitualmente comportado perder o controle e atravessar uma rua movimentada." Donos de exemplares de raças agressivas, como pit bull, rottweiler e fila, só podem circular com seu bicho na rua se ele estiver com focinheira. "É minha responsabilidade, pois tenho um cachorro de grande porte que potencialmente pode causar mais danos aos outros", destaca Cláudia, dona da rottweiler Dharma. Na prática, poucos cumprem essa norma de civilidade e segurança. No feriado de quarta-feira passada, rottweilers passeavam perigosamente soltos na pista de lazer da Praia de Copacabana. A dona-de-casa Leonora dos Santos Marques já cansou de ter seu american staffordshire Sol confundido com um pit bull. "Quem não conhece diz que ele tem de usar focinheira", conta. Por isso, quando Sol era menor – e mais parecido com um exemplar da raça temida –, Leonora só saía de casa com os documentos do animal. "Ele é muito dócil e gentil. Mesmo assim, tem gente que morre de medo."
Leonora e Sol: manso, mas confundido com pit bull
6) Vai receber visitas? Priorize os convidados
Tudo bem, você imagina que seu cãozinho seja a criatura mais linda e fofa deste mundo. Mas ninguém é obrigado a compartilhar seu entusiasmo pelas criaturas de quatro patas. Ao receber amigos em casa, é melhor manter seu animal longe deles. "Não interessa o tamanho do cachorro nem se ele é superbem-comportado. Poucas pessoas vão achar bacana ser babado por sua mascote", diz a consultora de estilo da TV Globo Regina Martelli, dona de três gatos e de um cachorro. "Imagine o constrangimento se o bicho resolve pular em cima de uma convidada e desfia sua meia-calça ou suja um tailleur Chanel original?" A precaução vale também para os que garantem adorar cachorros. "Mesmo que seja habitualmente calmo, o animal pode identificar como ameaça algum comportamento de quem ele não conhece e reagir com agressividade", afirma a veterinária Christianne Moll. "Em uma reunião social, os convidados estão sempre em primeiro lugar", resume a artista plástica Ira Etz.
7) Respeite as regras do condomínio
Cachorro, criança, cano, carro e cobertura. Segundo o advogado Giovani Oliveira, da Schneider Advogados, escritório que cuida de 2 700 condomínios no Rio de Janeiro, esses são os cinco "C" que resumem as principais causas de conflitos na convivência entre vizinhos. Só no ano passado, foram impetradas vinte ações na Justiça contra donos de animais. A principal reclamação dos moradores é relativa aos latidos. "Se o cão vai ficar muito tempo sozinho, é aconselhável deixar brinquedos e atividades estimulantes", diz a adestradora Beatriz Duarte. "O latido muitas vezes é um sinal de que o animal está entediado." Ela sugere, por exemplo, que se escondam brinquedos com petiscos pela casa, o que estimula a curiosidade do bicho. Respeitar as normas dos condomínios também ajuda a evitar dores de cabeça. Em alguns prédios é proibido circular com animais de médio e grande porte pelas áreas comuns sem coleira nem guia. Em outros, eles são obrigados a usar o elevador de serviço. A boa educação recomenda que, caso haja outras pessoas no elevador, o dono não entre com o animal. "Se for possível, a circulação deve ser feita pelas escadas. É bom para o cão e para o dono", propõe a veterinária Christianne Moll. "Tempos atrás, a convenção do condomínio era considerada uma regra absoluta e tinha até o poder de proibir a presença de animais nos apartamentos", explica o advogado Oliveira. "Hoje, a interpretação é que essas regras não podem interferir no direito de propriedade, desde que os animais não tragam transtornos à coletividade."
Giovani Oliveira: 20 ações na Justiça por causa da presença de cães
8) Pense dez vezes antes de levá-los a shoppings e restaurantes
Lugares freqüentados por muita gente exigem cães bem-educados e socializados, acostumados com barulho, a presença de estranhos, outros animais e movimento. Por boa educação entenda-se não latir, não rosnar nem pular nas pessoas. Isso pode até ser engraçadinho se vier de uma miniatura yorkshire, mas é francamente perigoso se o autor for um estabanado golden retriever pesando mais de 40 quilos. Os shoppings Rio Design Leblon e Barra permitem cães de pequeno e médio porte em suas galerias e mantêm equipes de limpeza de prontidão para resolver qualquer acidente. Outros centros de compra toleram bichinhos quando circulam dentro da bolsa de seu dono. A empresária Roberta Steinberg freqüenta diariamente o Shopping da Gávea com a shitzu anã Valentina. "Ela é educadíssima. Fica tão quietinha na bolsa que as pessoas pensam que é de pelúcia", diz Roberta. Uma vez por semana, Valentina acompanha Roberta em suas idas a um restaurante japonês. Alguns estabelecimentos, com varandas ou áreas abertas, autorizam a entrada de animais. Mesmo assim, não esqueça, eles devem ficar no chão, amarrados à guia, e não podem de jeito nenhum tentar participar da sua refeição ou, pior, aproximar-se dos pratos de seus vizinhos de mesa.
9) Mantenha o animal bem tratado
O melhor amigo do homem merece ser muito bem cuidado e tratado, o que requer disponibilidade financeira, emocional e de tempo. Vacinação em dia é o mínimo que um dono responsável deve garantir a seu bicho de estimação, assim como uma boa alimentação e higiene adequada. Certas raças exigem banhos semanais e escovação diária, medida que ajuda a eliminar os pêlos mortos, que causam mau cheiro. "Escovar o cão dez vezes por dia reduz o estresse", garante a veterinária Christianne Moll. "É um hábito salutar para todos." Cuidar da saúde psicológica do totó é também lhe dar atenção, carinho e estímulos. "O cão tem necessidade de fazer dois passeios mais longos duas vezes por dia. Ele precisa ver gente, cheirar coisas e ter contato com outros cães", diz Janildo Santana, adestrador e sócio da empresa Passeio Bom para Cachorro. Aqueles que não têm disponibilidade para sair com o animal podem contratar os serviços de passeadores, os chamados dog-walkers. Uma voltinha na companhia de outros cães custa em média 20 reais, ou entre 200 e 300 reais por mês. "Cachorro feliz é cachorro cansado", afirma a adestradora Beatriz Duarte.
Santana e seus "clientes": cachorro precisa passear e ver gente
10) Guarde para você pérolas como: "Ele é mansinho. Só vai te cheirar"
Nem todo mundo se sente à vontade na presença de animais. Há pessoas que têm medo do mais mimoso cãozinho de colo. Estão em seu pleno direito. "É desagradável ouvir que o cão não faz nada ou que vai apenas cheirá-lo", diz a consultora de estilo Regina Martelli. "Ninguém tem obrigação de gostar de bichos." Várias pessoas se assustam perto deles. E freqüentemente com toda a razão. "O maior número de mordeduras acontece na própria casa e com animais de pequeno porte", explica a veterinária Christianne Moll. Vale a pena lembrar que, no reino da bicharada, tamanho não é documento. Cães pequenos também têm uma boca cheia de dentinhos afiados. "Em muitos casos, quando o cachorro é grande, as pessoas costumam ter uma relação mais respeitosa", constata a adestradora Beatriz Duarte, dona de uma imensa – e pacata – rottweiler. Quem tem um totó que costuma estranhar desconhecidos deve avisar logo aos que se aproximam, especialmente se forem crianças, que muitas vezes tratam o animal da mesma forma despreocupada com que lidariam com um bichinho de pelúcia.
Pit bulls: a natureza da fera
Eles são apenas 10 000 entre os 20 milhões de cães do país (lembrem-se que esses dados são de 99). Não passam de 55 centímetros de altura, mas criam pânico nas ruas. "Deve haver umas cinqüenta mordidas de pit bulls por ano", estimou à SUPER Francisco Araújo, gerente do Controle e Vigilância de Fatores Biológicos da Fundação Nacional da Saúde. É muito pouco se considerarmos que há mais de 400 000 acidentes anuais desse tipo. Mesmo assim, os pit bulls apavoram, e não é à toa.
A lista de ataques de cachorros em que as vítimas saem retalhadas ou mortas é liderada por essa raça impetuosa. Eles são bravos porque foram programados para brigar até vencer. "Pit bulls tendem a morder sem avisar e não soltam a vítima sozinhos", disse à SUPER a veterinária Ilana Reisner, da Universidade de Cornell. Mas é provável que a fama de monstro seja tanto culpa dos animais quanto de quem os treina para atacar.
"Cães violentos estão sendo cada vez mais usados como armas de fogo. Eles refletem o aumento da violência na sociedade", diz à SUPER Randall Lockwood, pesquisador de comportamento animal da Sociedade Humanitária dos EUA. Afinal, os pit bulls, que entraram no Brasil só em 1988, não são os únicos violentos. Outro cão feroz, o rottweiler, pulou de 17 000 registrados no país em 1996 para 26 000 em 1998. "Além do mais, pit bulls e rottweilers bem-educados não saem mordendo", diz a veterinária paulista Hannelore Fuchs.
Algozes ou vítimas, o fato é que o constante aumento de ataques bestiais contra seres humanos vem convencendo muitos países a banir pit bulls e cães violentos de seus territórios. Desde 1991, eles já foram proibidos na Inglaterra, na França, na Dinamarca, na Holanda, na Noruega, na Bélgica, em Porto Rico e em várias cidades do Canadá e dos Estados Unidos. Chamada a se pronunciar, a ciência comprova que a raça é mesmo especial, mas muita coisa só começou a ser investigada agora. "Quanto da agressividade é genética ainda não sabemos", diz a veterinária Sharon Crowell, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. "Mas, estatiscamente, os pitt bulls são os mais brutais."
=> Cruzamento gerou besta de arena
A relação do homem com o cão tem, no mínimo, 14 000 anos. "Datam desse tempo os primeiros ossos de cachorro enterrados juntos com gente, em Israel", conta o veterinário paulista Mauro Lantzman. "A associação com os humanos aumentou a reprodução dos mais mansos." Primeiro, os descendentes dos lobos se aproximaram para comer restos de comida, sendo capturados. Domesticados, passaram a ajudar na caça e na defesa das tribos.
Sob o comando de homens pré-históricos, os filhotes amansados passaram a reconhecer os humanos como parte da sua matilha, respeitando-os com o mesmo senso de hierarquia adquirido na convivência com o bando. Aí começaram os cruzamentos seletivos que deram origem às mais de 200 raças de cães que conhecemos hoje. Boa parte delas mudou tanto que não sobreviveria na natureza. Muitas por serem agressivas demais.
É o caso dos pit bulls. "Sua história começou na Inglaterra, no século XVIII, quando espetáculos semelhantes às touradas eram muito populares", contou à SUPER Marcus Rito, do Kennel Clube de Brasília. Musculosos e de focinho curto, os bull dogs, como diz o nome em inglês, lutavam com touros. Mordiam o focinho deles e não largavam. Poucas atrações divertiam tanto os ingleses até 1835, quando foram proibidas e substituídas pelas lutas de cães.
Para isso, os bull dogs, pouco ágeis, não serviam. Foram então cruzados com os terriers, o que gerou os bull terriers, ancestrais diretos dos pit bulls. "Não temos certeza sobre todas as raças que constituíram as características do pit bull. Temos algumas hipóteses só", diz o criador paulista Wagmar de Souza, primeiro importador de pit bulls no Brasil.
"Além de coragem, força e agilidade, a rinha de cães requer visão frontal, resistência à dor e ataques de surpresa, de modo imprevisível", explica Lantzman. Privilegiando tais aspectos, muitos criadores cruzaram campeões até gerar feras implacáveis. Como cada um seguiu sua própria receita, os pit bulls não consolidaram, até hoje, características raciais. Por isso não têm padrão definido e reconhecido pela Federação Cinológica Internacional.
=> A genética da seleção perversa
Monstros criados pelo homem? Exatamente (os bons pit bulls, aqueles que estão dentro do padrão da raça, não são agressivos sem motivo e são dóceis com pessoas, mas não gostam de outros cães. Os maus pit bulls, os que aparecem na mídia, são em parte devido aos cruzamentos indiscriminados, que propagam características indesejáveis, e em parte devido ao tratamento incorreto que é dado aos animais. De uma forma ou de outra, a culpa pela existência dos maus pit bulls é do homem, assim como existem maus rottweilers, filas, cockers, poodles, pinschers, etc.). Graças à seleção artificial o pit bull é um animal feito para brigar. "Sabemos que a agressividade tem um forte componente genético porque ela já se manifesta em filhotes", explica Randall Lockwood (em outras palavras, os pais passam a agressividade para os filhos. Cães agressivos, ou com quaisquer outros desvios de temperamento, ou com quaisquer características físicas que os afastem do padrão da raça, não devem cruzar). Os cientistas têm três hipóteses sobre a origem da ferocidade dos pit bulls.
A primeira decorre da constatação de que a maioria dos ataques fatais observados nos Estados Unidos, onde há estatísticas precisas, foram dirigidos a crianças em primeiro lugar e a idosos em segundo. "Nesse caso, eles estariam agindo como predadores, atacando os indefesos para comer", afirma Sharon Crowell.
Outra pesquisa descobriu nos pit bulls deficiência de serotonina, o neurotransmissor responsável pela estabilidade emocional dos animais. "Os cães que atacam sem avisar são mesmo desequilibrados, em parte porque têm baixos níveis de serotonina", explicou à SUPER a veterinária Ilana Reisner. "É preciso agora descobrir se isso é válido para todos os pit bulls ou somente para os agressivos." Segundo ela, nada garante que, ao cruzar animais ferozes, os criadores tenham determinado que a agressividade se volte apenas contra cães. Ou seja, o ímpeto pode se descontrolar e atingir qualquer alvo, inclusive seu proprietário.
A terceira hipótese estuda a seleção do temperamento. Buscando produzir cães de rinha, os cruzadores teriam eliminado dos pit bulls dois comportamentos normais entre cães e lobos: advertir antes de atacar e cessar o ataque quando o adversário se rende. "Isso produz cachorros com uma ferocidade que não tem cabimento nem na natureza, pois é desprovida de sentido social e hierárquico", diz Lantzman. Uma fúria bestial.
A eficácia dos cruzamentos é indiscutível. "Ela atua sobre os genes que influenciam tanto o comportamento quanto a anatomia", diz Lantzman. Portanto, cães impetuosos e programados para atacar, que têm a agressividade como padrão de comportamento inato, não podem, é lógico, ser usados como mascotes.
Feras indomáveis desde o nascimento têm de ser sacrificadas ou, pelo menos, impedidas de passar seus maus genes para a frente. "Somos favoráveis à esterilização de animais de ficha suja", disse à SUPER Crista Schroeder, vice-presidente da Sociedade Zoófila Educativa, do Rio de Janeiro. "Só assim deixaremos de obter ninhadas com características indesejáveis."
=> A culpa da cria e a culpa do criador
Para qualquer propósito, a educação dos cães pode reforçar ou atenuar a herança genética. "Sinais de agressividade são detectados cedo e corrigidos com bom condicionamento", disse à SUPER o adestrador paulista Alexandre Rossi. "Se os genes empurram ao ataque, um ambiente contrário a essa natureza reverte o quadro", diz Hannelore Fuchs. "Afinal, é o homem quem cria aberrações."
No treinamento para a briga, "é inacreditável o que fazem com os bichos", disse à SUPER Crista Schroeder. "Indivíduos que ignoram informações básicas sobre cães se dizem adestradores", protesta Rossi. "Produzem aberrações e acabam pondo toda a raça em risco de extinção", lamenta Wagmar de Souza. "A minha pit bull, a Sacha, é um doce. É grande amiga dos meus filhos."
Segundo alguns estudiosos, os pit bulls têm salvação. No Brasil, a supressão dos maus instintos está na mão dos 40 criadores sérios, registrados, entre os 200 que existem no país. "Estou concluindo o esboço do padrão do pit bull brasileiro", disse à SUPER Agnes Buschwald, presidente do Kennel Clube Paulista, uma das 2 entidades que registram a raça no país. A outra é a Associação Cinológica do Brasil, de São Paulo. "Não registramos qualquer cão", conta Buschwald. "Para receber atestado de pedigree, o animal passa por teste de temperamento. Dois juízes e um veterinário o examinam. É impossível que os mais descontrolados não se revelem."
O rigor dessa minoria de criadores sérios e a constatação de que há pit bulls e rottweilers bem-educados mudaram o projeto de lei federal que tramita no Congresso Nacional. O deputado Antonio Henrique Bueno (PPB-SP), autor da proposta, evitou legislar sobre raças e propôs normas de posse responsável para todos os cães.
"Qualquer raça está sujeita à seleção para agressividade, por isso não é justo exterminar duas delas", diz Hannelore Fuchs. Lockwood concorda: "Temos de controlar todas as raças e lutar para exterminar rinhas e não pit bulls". A justa reação da sociedade à violência de cães de briga pode estar com o endereço errado. Além da criatura, é preciso controlar o criador.
=> Não folgue comigo
Não larga: A boca se abre de uma orelha a outra. É a maior abertura entre os cães. Graças ao encaixe perfeito dos dentes, ele pode morder sem soltar. A mordida tem 200 quilos de força.
Orelha cortada: Alguns animais têm orelhas amputadas para diminuir a vulnerabilidade às mordidas dos adversários (essa cirurgia agora foi proibida).
Porte atlético: Estes atletas guerreiros medem de 48 a 55 centímetros de altura e pesam de 23 a 35 quilos. Ágeis como felinos, podem até subir em árvores. Resistentes, conseguem correr até 10 quilômetros sem se cansar.
Nariz curto: O focinho pequeno ajuda o ataque. O animal continua respirando enquanto morde. O pescoço, também curto, oferece menos superfície de ataque aos inimigos.
Massa bruta: Eles são fortes o bastante para arrastar objetos de até 950Kg em competições. O equivalente a um carro como o fusca.
Olhar incisivo: Os olhos têm um ângulo de visão restrito. Fixam o olhar no alvo no momento do ataque. Ele não vê mais nada.
=> Treinamento para o bem e para o mal
Socialização: Filhotes entre 2 e 4 meses devem circular muito e ser socializados (quanto mais, melhor). Têm de entrar em contato com outros cães e com membros da família e da vizinhança (e com outros animais, pessoas, sons, cheiros e superfícies de todos os tipos, tamanhos, cores e formas). Assim, saberão distinguir conhecidos de intrusos.
Boas maneiras: Desde pequenos, os animais devem aprender a obedecer a todos na casa, do mais velho ao mais novo, independentemente de quem seja o dono (treinamento de obediência não é uma opção, é uma obrigação para todos os donos de cães de temperamento dominante). Devem ter horário para comer. É bom evitar brincadeiras violentas e disputas que ele vença (cabo-de-guerra, nem pensar).
Afeto e carinho: Cães não devem ser acorrentados. Mas também não podem se achar os donos do pedaço. Mesmo que tenham um temperamento difícil, o uso de violência física tem de ser evitado. O cachorro pode interpretar movimentos bruscos como agressão (e o dono que quiser se manter como o líder para o seu cão só o fará se impuser respeito, e não medo).
=> Contratando um matador
Malhação: Cães de briga como os pit bulls costumam ser submetidos a exercícios físicos para ganhar força e velocidade. Usam-se equipamentos semelhantes aos de academias de musculação, como esteira e dilatadores do peito. Preparam-se assim para lutas de longa duração.
Isolamento: Os treinadores confinam os animais em cubículos pequenos, impedindo-os de se socializar com outros cães. Exibem-lhes água e comida que não podem alcançar. Tornam os bichos famintos e ansiosos.
Calibre grosso: Alguns cães de briga são submetidos a sessões de ginástica que parecem tortura. Costumam ficar dependurados em pneus pela boca para exercitar o músculo da mastigação.
Sede de sangue: Propositadamente, os adestradores atiçam o instinto predatório dos seus "atletas" atirando cachorros, gatos e galinhas vivas para serem mortos e devorados.
Leiam a matéria completa nesse link.
Governo de SP proíbe eutanásia
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sancionou lei que proíbe a "eutanásia" em animais saudáveis nos 645 municípios do Estado. A medida já está em vigor. Caberá aos municípios realizar ações de castração e de adoção para bichos em boas condições de saúde. Segundo a lei, nem animais ferozes, como pit bulls, poderão ser sacrificados. Antes, eles deverão ser "socializados" e colocados para adoção. Se nada der certo, poderão ser mortos após 90 dias.
Protetores de animais comemoraram a sanção. "É uma vitória para todos os animais. Antes, eram levados para o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) e sacrificados em três dias", afirma Raquel de Jesus, de 48 anos, que resgata animais.
Ana Gabriela de Toledo, vice-presidente do Projeto Esperança Animal, classifica a lei como "maravilhosa". Ela diz que São Paulo passa a atender determinações da Organização Mundial da Saúde que preconiza a esterilização dos animais e a conscientização na proteção.
Angela Caruso, do Fórum de Proteção Animal, também comemora a aprovação, mas se preocupa com a capacidade de implantação nas cidades. "Em todo o Estado, existem cerca de 80 CCZs. Precisamos agora é cobrar que o Estado repasse recursos para os municípios."
Leiam a matéria completa nesse link.
domingo, 27 de abril de 2008
Marley: maluco e irresistível
Marley & Eu toca na veia sentimental de todos os que já tiveram um cão – ou outro bicho de estimação.
Há mais de quarenta semanas na lista dos mais vendidos de não-ficção do The New York Times – na qual ocupava a primeira colocação na semana passada –, Marley & Eu (tradução de Thereza Christina Rocque da Motta e Elvira Serapicos; Prestígio; 272 páginas; 34,90 reais), do jornalista americano John Grogan, é um daqueles sucessos que parecem desafiar toda compreensão. Trata-se de uma crônica da convivência do autor com seu cachorro trapalhão e hiperativo, o Marley do título. Com exceção de uns poucos episódios mais pitorescos (como o fracasso do indisciplinado Marley em uma participação no cinema), é uma história bem comum, sem nada de extraordinário: um casal sem filhos adota um cachorro; o cachorro, como muitos de sua espécie, bagunça a casa toda; o casal ganha três filhos e muda de cidade; o cachorro envelhece e morre; a família fica triste. Em teoria, qualquer dono de cachorro poderia ter produzido uma narrativa similar. Sim, mas foi Grogan quem teve a idéia de fazê-lo. E com isso acertou na veia sentimental de todos os que amam cachorros – um público nada desprezível, a julgar pelo 1,8 milhão de exemplares que o livro vendeu nos Estados Unidos. Marley, o labrador, merece esse sucesso póstumo: ele é a prova de que o maior encanto de um cão está na sua personalidade.
Marley: almofadas destruídas e ouro devorado
Não, falar em personalidade canina não constitui o pecado fabuloso da antropomorfização. Não se estão projetando atributos humanos sobre o bicho. Os especialistas em psicologia animal trabalham com parâmetros razoavelmente claros para definir a personalidade dos cães. De cinco fatores utilizados na avaliação da personalidade humana, quatro são válidos para o cão (veja quadro na reportagem original). O único que não se aplica é a responsabilidade – noção que implica compromissos com o futuro e portanto não vigora no universo imediatista da cachorrada. As diferentes raças têm características específicas. Inteligência e afetividade, por exemplo, são próprias de labradores como Marley. Ao mesmo tempo, porém, cada cachorro guarda seus atributos individuais, que podem ser avaliados na hora de comprar um filhote. Grogan e sua mulher, a também jornalista Jenny, negligenciaram um dado importante ao comprar o pequeno Marley em uma fazenda nos arredores de West Palm Beach, no início dos anos 90: não pediram para conhecer o pai do cãozinho. Foi só depois de já ter fechado negócio com a criadora que o casal viu, por acaso, o pai cachorro voltando para casa em desabalada carreira, agitado e todo sujo depois de um dia de diversão nos pântanos da região. A resistência de Marley ao adestramento deve ter sido herança paterna.
Marley & Eu é leitura leve e rápida, sob medida para a beira da piscina. A única dificuldade que ele oferece ao leitor – no Brasil – é a tradução obtusa (estamos de acordo, a versão em inglês é incomparavelmente melhor!!!). As tradutoras chegam a transformar "lab puppies" em "filhotes de laboratório". "Lab", aqui, quer dizer muito obviamente "labrador", a raça de Marley ("lab" é uma abreviação muito comum, esse erro de tradução é inadimissível). Tamanho desprezo pelo contexto parece sugerir um despropósito lógico: as tradutoras não estavam lendo aquilo que traduziam. Uma pena, porque teriam se divertido com as peripécias de Marley. Em seus 13 anos de vida, o herói do livro arranhou portas, rasgou almofadas e roubou comida dos donos. Chegou a engolir uma corrente de ouro de Jenny (que o dedicado marido recuperou, imagine o leitor como). No entanto, Grogan e Jenny – e, mais tarde, seus três filhos – se apaixonaram pelo labrador. Há um encanto simplório mas irresistível nessa amizade. Lá pelo final, o autor tenta extrair uma "lição de vida" de sua relação com Marley. O cão era capaz de encontrar a máxima felicidade buscando um pedaço de pau atirado pelo dono – uma prova de que a felicidade estaria nas coisas simples. Comparação furada: seres humanos não são criaturas tão simples (nem os cães, mas eles sabem ser felizes com as coisas simples da vida, coisa que nós não sabemos. Os cães vivem para o hoje, eles não remóem o passado e não se preocupam com o futuro). Os bichos de estimação talvez tenham pouco a ensinar aos homens (ao contrário, eles têm *muito* o que nos ensinar). Marley & Eu demonstra sobejamente, isso sim, que eles têm muito a dar.
John Grogan e sua nova cachorra, Gracie: amizade incondicional
Passos para avaliar a personalidade de um cãozinho:
=> Procure conhecer os dois pais do cãozinho. Muitos traços de personalidade são hereditários
=> Evite os extremos. Ao avaliarem uma ninhada, algumas pessoas tendem a escolher o cãozinho que se aproxima imediatamente delas, em geral um tipo mais dominante, difícil de adestrar. Outras buscam os mais retraídos, que inspiram pena – mas estes podem ter personalidade medrosa e tímida
=> Teste a agressividade, imobilizando o filhote por algum tempo. Se ele reagir com raiva imediata, tenderá a ser um adulto agressivo
=> Não leve o cãozinho para casa antes que ele tenha 7 ou 8 semanas (isso mesmo, 50 a 60 dias!!! Deixar a ninhada com 45 dias é muito cedo!!!). Esse tempo junto à ninhada é importante para que ele aprenda a se socializar
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Uma questão de linguagem
Selecionado ao longo de séculos de evolução por suas habilidades de interação com as pessoas, o cachorro é um produto do ser humano. Mas ainda subsistem problemas de comunicação entre as duas espécies. Eis algumas dicas para superá-los.
=> O abraço é um comportamento de primatas, como o chimpanzé e o homem. Cachorros não expressam afeto desse modo. Aqueles acostumados à companhia humana toleram, mas não apreciam o gesto. Se quiser demonstrar afeto, opte pelo carinho atrás da orelha ou na barriga. Nunca abrace um cão que você não conhece – a coisa pode acabar em mordida.
=> Do seu lado, os cães gostam de expressar afeto lambendo o rosto do dono – o que nem todas as pessoas suportam bem.
=> Cães não têm memória do que fazem de certo ou errado (melhor dizendo, cães não têm a noção de certo ou errado, como nós temos). Se você chegou em casa e descobriu o sofá destruído, não adianta xingar seu cachorro – ele não vai entender por que você está zangado. A prática de esfregar o focinho do bicho no xixi que ele fez no tapete também só gera confusão e humilhação. Repreenda seu cão somente quando você o pega no ato.
=> Cães transferem para sua relação com os donos parte da hierarquia de uma matilha. A questão é quem será o líder – o dono ou o cão. Para evitar problemas futuros, mostre quem manda desde o início. Estabeleça limites e dê ordens firmes desde cedo a seu filhote.
=> Muitos donos chamam a si mesmos de "mãe" ou "pai" do cachorro. Não há nenhum problema nisso, desde que se tenha em mente que um cão tem necessidades muito diferentes das de um ser humano. Ele não é uma criança – a não ser em um ponto específico: como as crianças, os cães precisam de limites bem estabelecidos para serem bem educados.
=> Cuidado com os exageros. Seu cão pode até não se importar de vestir roupa, mas perfumes, sobretudo, podem ser agressivos para o animal – lembre que ele tem um olfato sensível.
=> Acostumados à comunicação verbal, seres humanos às vezes não prestam atenção à sua linguagem corporal – e mandam sinais contraditórios para seu cão. É comum uma pessoa inclinar-se para a frente na hora de chamar seu animal. Esse gesto, porém, costuma ser interpretado pelo cão como uma ordem para parar seu movimento. Dê suas ordens de uma posição ereta.
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Amigos até que a morte nos separe
A humanidade mantém laços afetivos mais fortes com os cães do que com qualquer outro bicho. A ciência vem desvendando as razões dessa história de amor que já dura 12 000 anos.
Em um dos trechos mais tocantes do livro Marley & Eu, o jornalista americano John Grogan narra como o cão de estimação do título reagiu quando sua mulher, Jenny, sofreu um aborto espontâneo. Marley aproximou-se cabisbaixo da dona e deixou-se abraçar por ela – era como se tivesse sido contagiado por sua tristeza. A relação entre o labrador e a família de Grogan é a matéria-prima do livro – e o imenso interesse despertado pelo mesmo constitui um ótimo indício de como os seres humanos compartilham esse apego pela cachorrada. Mais de 3 milhões de exemplares de Marley & Eu foram vendidos no mundo desde seu lançamento, em outubro de 2005. No Brasil, foram 140.000 exemplares – o suficiente para fazer dele o primeiro colocado na lista de VEJA dos mais vendidos de 2006 na categoria de não-ficção. Seu sucesso dá uma medida da importância que um cão pode assumir na vida afetiva de seus donos. Nos lares, sempre houve espaço para uma gama variada de animais, dos peixes aos gatos e aves. Com nenhuma dessas espécies, contudo, o homem estabeleceu uma relação tão íntima quanto com os cães. Animais de natureza social, eles são capazes de manter uma comunicação muito efetiva com seus donos.
Para além da fidelidade e de outros atributos que costumam ser associados aos cachorros, é aí que reside o diferencial dessa afeição: ela dispensa as palavras. "É uma relação muito básica. Não há complicações, discussões ou melindres", diz Grogan (veja entrevista com o autor nesse link). A especialista Patricia McConnell, autora de Cães São de Marte – Donos São de Vênus, atesta essa impressão: "A chave da amizade entre homens e cães é que se trata de uma ligação puramente emocional". O cão tem uma competência ímpar para comunicar seus desejos – comida, água, carinho, necessidade de um passeio. Também é capaz de ler as emoções de seus donos e responder apropriadamente a elas, num fenômeno que os especialistas chamam de ressonância afetiva.
UM POLÍTICO "CACHORREIRO": O senador Arthur Virgílio tem um poodle, um yorkshire e duas pit bulls. Orgulha-se da disciplina deles: "É só eu dizer 'feio' que eles obedecem". Nos cães, encontra uma lealdade rara na política: "Nunca vi um cachorro traidor".
De acordo com um levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet), há hoje no Brasil quase 29 milhões de cães de estimação. A concorrência dos gatos é forte – eles já são "maioria" nos lares americanos, e sua população cresce a taxas maiores que as dos cachorros também por aqui (embora ainda não cheguem a representar metade deles). Mas, apesar disso, é difícil imaginar que os bichanos – com o perdão de seus fãs incondicionais – possam oferecer o mesmo consolo afetivo proporcionado por um cão. O próprio John Grogan, aliás, admite que não conseguiria escrever um livro como Marley & Eu se o animal em questão fosse um gato, pela diferença de natureza nessas relações.
Esse entendimento tácito entre as espécies levou milhares de anos para se aprimorar. "O cachorro passou por um processo de domesticação intenso. Podemos dizer que o cão que conhecemos hoje é uma obra humana", diz o zootécnico Alexandre Rossi. A evidência arqueológica mais antiga dessa amizade, uma mulher enterrada junto de seu cão encontrada em Israel, data de 12 000 anos atrás. Mas sabe-se que essa domesticação se iniciou bem antes, há mais de 100.000 anos, quando os ancestrais do homem começaram a dar abrigo aos filhotes de lobos que rondavam seus acampamentos. A relação, a princípio, era de caráter utilitário: o cão ajudava na caça e na proteção, em troca de comida. Presume-se que aqueles animais que se adaptaram melhor ao convívio humano ganharam o que os biólogos chamam de vantagem adaptativa: tinham mais chance de sobreviver e gerar descendência que os demais. Num processo que o naturalista inglês Charles Darwin chamava de "seleção artificial", o homem foi criando cães cada vez mais apropriados a suas necessidades. Pelo mesmo processo, foi se desenhando a incrível variedade de raças caninas, do minúsculo chihuahua ao enorme dinamarquês.
AMOR QUE RESISTE AO XIXI: O vídeo que flagra Ana Maria Braga levando um esguicho de xixi de um poodle faz sucesso no YouTube. Dona de nove cães, ela está acostumada com travessuras. "Gostar de cachorro tem a ver com carência. Preciso do carinho deles", diz a apresentadora, que gasta 500 reais por mês com suas mascotes.
Os laços afetivos entre as espécies também foram depurados ao longo da evolução. A comunicação foi facilitada, de saída, pelas semelhanças entre a estrutura social do homem e a dos caninos. Tal e qual ocorre nas sociedades humanas, a matilha é um grupo regido pela hierarquia e no interior do qual os indivíduos têm de saber decodificar as emoções de seus pares. "Assim como o homem, o cão tem necessidade de se ligar a outro ser e adotá-lo como referência", diz a veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs. É razoável supor que, sempre que uma nova cria surgia, os homens davam preferência não só aos animais que atendiam a suas necessidades práticas, mas também àqueles que tinham traços comportamentais que facilitavam a compreensão mútua. E assim se refinou a capacidade de ambas as espécies de interpretar o humor e as reações do outro.
Estudos recentes ajudam a entender a natureza dessa ligação. Boa parte deles toma como ponto de partida a comparação entre o comportamento do cão e o do lobo, seu parente selvagem. As duas espécies são muito semelhantes geneticamente – a ponto de a reprodução entre elas ser factível. Mas há um abismo comportamental e tanto: o cão hoje dificilmente sobreviveria nas florestas onde os lobos caçam. Seu meio ambiente é o do homem. "Mesmo os cães de rua não vivem sem alguma forma de interação com o ser humano", observa o psicólogo e estudioso do comportamento canino César Ades, da Universidade de São Paulo. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos com animais que vivem em abrigos mostraram que, mesmo não sendo acostumados à presença regular de um dono, eles preferiam a companhia humana à de outro cachorro. "Diferentemente do lobo, o cachorro desenvolveu uma capacidade de interação com o ser humano muito apurada. Mas ele também sabe que o seu dono não é outro cachorro", esclarece Ades.
TAMANHO-FAMÍLIA: Na infância, Adriane Galisteu queria um cão, mas a mãe não permitia. Hoje, a apresentadora divide seu apartamento com George, um golden retriever. Nos passeios, leva pá e saquinho. "Cachorro grande faz cocô grande", diz. O bicho passa seis horas diárias numa "escolinha". Custo: 800 reais por mês.
Uma das maiores autoridades mundiais em comportamento canino, o húngaro Ádám Miklósi coordenou uma pesquisa na qual filhotes de cachorro e de lobo foram criados por pessoas, em condições idênticas. Testadas numa série de situações que exigiam comunicação com seus criadores, as duas espécies mostraram resultados diversos. A competência de lobos e cães é semelhante quando se trata de interpretar pistas visuais dos humanos – por exemplo, uma mão apontada na direção de um prato de comida. Mas só os cães fazem "pedidos" ao homem. Em situações nas quais a comida estava escondida numa caixa fechada ou pendurada numa corda que não cedia, os lobos limitavam-se a roer a caixa ou puxar a corda com insistência, enquanto os cachorros tentavam chamar a atenção dos tratadores com latidos e olhares. Sim, olhares: outra conclusão do estudo é que o cão faz mais contato olho a olho com o homem que o lobo. Os lobos também não eram capazes de fazer um sinal conhecido por todo dono de cachorro – eles não sacodem a cauda. Miklósi e sua equipe realizaram ainda pesquisas comparativas de cães e gatos, com resultados similares: os bichanos entendem sinais dos donos, mas não buscam ajuda humana quando enfrentam dificuldades na obtenção de comida. O gato ainda mantém um certo comportamento de caçador. O cachorro é um animal doméstico, que espera a comida do dono.
Para os humanos, o convívio com os cães gera benefícios hoje mais que comprovados à saúde e à mente. Nos últimos anos, os cientistas trouxeram à tona fartas evidências disso. Já se mostrou que as crianças que interagem com eles desenvolvem a coordenação motora e as habilidades socioemocionais mais rapidamente. Os idosos também tiram proveito desse relacionamento. Uma pesquisa americana revelou que, para as pessoas entre 65 e 78 anos, a companhia de um cão contribui decisivamente para evitar a depressão e o isolamento. E, por fim, essa amizade pode ser útil para os doentes. Um exemplo: a pesquisadora Karen Allen, da Universidade do Estado de Nova York em Buffalo, verificou que pessoas com hipertensão que têm cachorros sofrem menos crises em situações de stress.
A EDUCAÇÃO PELO CÃO: A cantora Fernanda Takai, da banda mineira Pato Fu, aprendeu noções de responsabilidade com os cães que teve na infância. Com dois deles em casa, ela tenta passar a mesma lição a Nina, sua filha de 3 anos: "Sinto que, no contato com eles, ela está aprendendo a lidar com os limites".
A cooperação entre cachorros e homens alimentou uma quase-santificação do animal. São conhecidas histórias de cachorros que salvaram a vida de seus donos, ou até que morreram ao fazê-lo. A imagem do cão que se sacrifica por seu dono é comovente – mas esse comportamento tem uma explicação bem menos idealizada. "Do ponto de vista da biologia, não existe sacrifício. O que parece comportamento altruísta por parte de um cachorro quase sempre é apenas resultado de seu comportamento de matilha", diz o húngaro Miklósi. Assim, se um cão salva um menino do incêndio, é porque em situações de stress ou perigo o animal tenderia a manter seu grupo todo reunido. E é claro que ele não tem uma noção exata do perigo que corre ao entrar numa casa em chamas.
Isso pode valer para a perspectiva mais objetiva da ciência. Para o dono de cachorro, que tende a avaliar o que vê em seus próprios termos subjetivos, é muito difícil não se impressionar com a lealdade do cachorro. A fidelidade dos cães já era notada na Odisséia, de Homero, composta por volta do século VIII a.C. Quando o herói Ulisses retorna a sua casa na ilha de Ítaca depois de uma ausência de vinte anos, o velho cão Argos é o primeiro a reconhecer seu amo – e morre de imediato, tomado de emoção. Ulisses, por sua vez, deixa escapar uma lágrima por Argos.
Ao longo dos tempos, as virtudes e os defeitos caninos ganharam inúmeras representações culturais (veja quadro na reportagem original). Além da fidelidade, o cão tornou-se símbolo de heroísmo e afetividade – mas também de gaiatice e agressividade. Serviu, ainda, de emblema político. Na França absolutista, o lulu de perua, com suas roupas de grife e seus salões de beleza, virou símbolo da insensibilidade social dos ricos. Por outro lado, pode-se sempre lembrar que o cão também já foi emblema de liberdade. Em seu livro Da Dificuldade de Ser Cão, o escritor francês Roger Grenier conta que certa vez visitou a Checoslováquia comunista na companhia de seu animal de estimação. "Vivam os cachorros", gritou um jovem em Praga quando viu Grenier passeando com seu cão. Era uma forma disfarçada de protestar contra a opressão comunista.
As pessoas tendem a ver seu bicho de forma humanizada e a considerá-lo como um filho, um amigo. No fundo, o animal responde à necessidade atávica que todo ser humano tem de cuidar de outro ser vivo. De certo modo, ele funciona como uma criança substituta, especialmente para os donos mais velhos. Não é de estranhar que muitos se intitulem "papai" ou "mamãe" de seu bicho. Nas metrópoles modernas, em que as pessoas tendem a ter menos rebentos, ele preenche uma lacuna afetiva importante. Mesmo adulto, requer cuidados não muito diferentes dos que se dispensam a uma criança, pois é necessário dar-lhe comida, banho e abrigo. Em troca, estará sempre à disposição para brincadeiras e afagos. O cão é um animal gregário, o que marca uma diferença e tanto em relação ao gato, um bicho mais individualista (os felinos em geral não vivem em grupos; a exceção notável é o leão). Em certa medida, ele transfere para suas relações com o homem os traços sociais de uma matilha selvagem. Ou seja, há sempre uma disputa pela dominância.
Na maior parte do tempo, advertem os especialistas, o cão ganha a parada e se estabelece como o maioral do pedaço. São poucos os donos que sabem implementar limites efetivos para seus animais (lembramos que isso é muito ruim, tanto para o dono quanto para o cachorro). O predomínio do cão geralmente não traz maiores danos (discordamos *totalmente* dessa afirmação!!!), mas às vezes (na prática não é "às vezes" e sim "quase sempre", sendo exceção apenas quando o cachorro em questão tem um temperamento muuuito submisso) se traduz em comportamentos incontroláveis e até em agressividade, casos em que se torna aconselhável buscar um adestrador. Quando a relação desanda, há sempre o risco de que a coisa deságüe em tragédia – para o bicho ou, em situações tão raras quanto chocantes, para seu dono. Já se registraram casos de pessoas que foram atacadas e sofreram sérios danos, quando não foram mortas, pelo próprio animal.
A boa notícia é que sempre há a possibilidade de reverter a relação de dominância ("sempre" é relativo, depende muito mais do empenho do dono do que do problema em si, se o dono não estiver disposto a trabalhar para reverter a situação junto com o cachorro e com o treinador, o problema não vai ser resolvido). Assim como numa alcatéia o lobo-alfa pode a qualquer momento ser desafiado e desbancado por um concorrente mais jovem, também o cachorro que se torna o senhor da casa pode ser colocado na linha pelo dono, se este souber agir com firmeza (por favor entendam que "firmeza" não significa violência, significa impor limites e ter pulso firme para mantê-los, pois um bom líder se mantém no posto por respeito e não por medo). Em geral, é possível conseguir o domínio sobre o cachorro com reprimendas firmes e recompensas sempre que ele obedece a uma ordem (infelizmente não é tão simples assim, só isso pode não ser suficiente para reverter a situação, principalmente se o cachorro já é o rei da casa há algum tempo ou se tem um temperamento naturalmente dominante). Os adestradores propõem um teste definitivo para saber se é o dono ou o cachorro quem manda na casa: coloque um pedaço de carne no chão e diga "não" se o cão se aproximar. O cachorro que aceitou seu papel de "dominado" na relação com o dono só vai comer o petisco quando autorizado (isso está *totalmente* furado: seja submisso ou dominante, a maioria dos cães sadios não vai resistir a uma guloseima no chão, a não ser que o cachorro já conheça o comando "não" e já tenha sido treinado para não pegar comida, coisa que nós da Lord Cão ensinamos nas nossas aulas em grupo). "Todo dono em algum momento se vê diante desse dilema existencial: estabelecer quem manda, o homem ou o cachorro", diz John Grogan, do alto de sua experiência com o bagunceiro Marley. Mas quem é capaz de resistir às ordens de seu amado totó? (Que pergunta! Todos os que queiram uma relação saudável para ambas as partes!!!).
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Remédios de gente pra cachorro
Remédios de gente agora também são usados para melhorar a qualidade de vida dos animais.
Os animais de estimação costumam ficar parecidos com seus donos – e a semelhança não se limita a trejeitos e hábitos. Muitos cães, que passam o dia confinados em apartamento, empanturrando-se de comida, tornam-se obesos e sofrem de depressão. Natural, então, que compartilhem os remédios criados para os seres humanos. No início deste ano, a Food and Drug Administration (FDA), agência que controla a venda de alimentos e de remédios nos Estados Unidos, deu aval a dois novos medicamentos para cães. O primeiro deles, que começará a ser vendido pela Pfizer neste mês, pretende combater a obesidade canina. Atua de maneira análoga à de alguns inibidores de apetite vendidos em farmácias, que limitam a absorção de gordura no intestino. O outro medicamento é uma goma de mascar com irresistível (para os cães) sabor de bife, que traz na composição a fluoxetina, a mesma substância do antidepressivo Prozac. A Eli Lilly, fabricante do produto, estuda outros seis remédios baseados, em parte, em moléculas utilizadas em medicamentos para humanos. Todos são esperados para os próximos quatro anos.
O interesse dos grandes laboratórios farmacêuticos nos animais de estimação explica-se pelo potencial de consumo. Nos Estados Unidos, existem quase 163 milhões de cães e gatos, cujos donos gastam 5 bilhões de dólares anualmente com seus companheiros. Nos últimos cinco anos, a FDA aprovou mais de duas dúzias de remédios para esses animais, muitos deles bem parecidos com similares criados para uso humano. Na verdade, o homem e o cão compartilham a mesma fisiologia básica. "Em geral, os medicamentos liberados para uso humano foram testados antes em animais", diz o zootecnista Alexandre Rossi, de São Paulo. A diferença desses novos remédios em relação à farmacologia veterinária tradicional está no fato de que não pretendem simplesmente curar doenças. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida dos bichos, atacando alguns problemas crônicos, como ansiedade, excesso de peso, má digestão ou tosse. "Um cachorro não vai morrer por causa desses males, mas seguramente pode viver melhor sem eles", afirma a veterinária Márcia Marques Jericó, coordenadora do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Pesquisa realizada por Márcia mostrou que, nas grandes cidades brasileiras, quase dois em cada dez cães estão acima do peso.
A vira-lata Luana: Prozac para superar o medo de gente
O princípio ativo do Prozac – a fluoxetina –, que pode ser comprado com prescrição dos veterinários em farmácias, já é bastante usado para atenuar a ansiedade de separação, que se manifesta quando o dono do animal o deixa sozinho por algumas horas. Quando volta, os sintomas são visíveis por toda parte: móveis destruídos, cheiro de urina e fezes pela casa e reclamações dos vizinhos devido a latidos incessantes. A fluoxetina também é usada para reduzir o medo que alguns animais têm de pessoas. "Quando adotamos Luana, ela passou um mês sem sair de debaixo da cama", diz Ana Carolina de Oliveira Feijó, psicóloga de São Paulo. Por três meses, a vira-lata ingeriu comprimidos camuflados em bolinhos de carne diariamente. Também começou a freqüentar um canil para se socializar com outros cachorros. Semanas depois, Luana já balançava o rabo e brincava. "Quando estamos em casa, ela até se senta no sofá da sala." Alguns ansiolíticos também são receitados para cães com diferentes objetivos. Os donos de Igor, um cão samoieda de 5 anos, acostumaram-se a lhe dar comida quando ele começava a atrapalhar o sono com latidos incessantes. O animal chegou a ficar com 43 quilos, quando o ideal é entre 30 e 33. Após uma consulta veterinária, Igor passou a fazer dieta e exercícios e a tomar ansiolíticos. Os remédios não apenas acalmaram o cão como também ajudaram a contornar o stress provocado pela ingestão menor de comida. "A regra é a mesma para pessoas e cães", diz a veterinária Cristiane Godoi, da clínica da Cobasi, em Campinas, que trata de Igor. "É preciso ter cuidado para não errar na dose."
Cliquem na figura acima para ampliar e leiam a matéria completa na página: http://veja.abril.com.br/090507/p_123.shtml
As super-rações
Novos alimentos para cães e gatos parecem remédio – e alguns são mesmo.
Cachorro alimentado com filé mignon já foi sinônimo de bicho de estimação mimado. O máximo em cuidados especiais com a alimentação de cães e gatos, agora, são rações que, além de fornecer uma dieta balanceada, contêm substâncias capazes de resolver ou prevenir problemas de saúde nos animais. Isso inclui alimentos que combatem desde doenças urinárias em gatos até diabetes em cães. A última novidade nessa área é a ração com colostro, o leite materno dos primeiros dias de amamentação, rico em proteínas e imunoglobulinas. Fabricado pela americana Purina, o produto importado começou a chegar neste mês às prateleiras das pet shops brasileiras e é indicado para fortalecer o sistema imunológico de cães com até 1 ano de idade. O colostro contido na ração é retirado de vacas previamente vacinadas contra doenças caninas, para produzir os anticorpos de que os filhotes de cachorro precisam. Outras opções de comida especial para animais domésticos prometem resolver problemas mais específicos, como as bolas de pêlo que se acumulam no intestino dos felinos (gatos, afinal, lambem-se muito) ou cachorros com estômago hipersensível.
Para desenvolver rações que previnem doenças e complementam o tratamento veterinário, a indústria especializada beneficiou-se de pesquisas feitas originalmente para atender à nutrição humana. A empresa francesa Royal Canin, por exemplo, inspirou-se em produtos desenvolvidos para bebês com rejeição ao leite materno para criar uma ração, à base de soja, específica para cães que sofrem de problemas digestivos crônicos e alergia à carne. "Da mesma forma que os animais podem sofrer com doenças semelhantes às nossas, também podem se beneficiar das mesmas soluções", diz Yves Miceli, veterinário da filial brasileira da Royal Canin, em Descalvado, no interior de São Paulo. Uma clara vantagem de incluir substâncias com propriedades terapêuticas na comida dos bichos é a possibilidade de reduzir o trabalhoso processo de cuidar de cães e gatos doentes – obviamente avessos a engolir pílulas, xaropes ou tomar injeções. "Essas rações especiais não substituem os remédios, mas têm o potencial de melhorar a qualidade de vida de animais com problemas de saúde", diz Renato Flaquer, diretor científico da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária. A preocupação com o bem-estar físico dos bichos de estimação é um fenômeno recente: começou a ganhar força com a descoberta, pela medicina veterinária, de que os animais também podem sofrer de males antes apenas conhecidos em humanos, como por exemplo o diabetes. E, no quesito preço, as super-rações custam tanto quanto o velho mimo de dar filé a um cachorrinho de madame.
Cliquem na figura acima para ampliar e leiam a matéria completa na página: http://veja.abril.com.br/130607/p_100.shtml
Células-tronco: em bichos já funciona
O tratamento com células-tronco, ainda em fase experimental em seres humanos, já está curando cães e gatos.
O uso de células-tronco para o tratamento de doenças em seres humanos ainda é uma promessa para o futuro. Os médicos não descobriram até agora os procedimentos corretos para usá-las de forma eficaz. Não existe garantia de que as células-tronco se transformem no tipo de célula adulta desejada para curar determinado mal. Uma das maneiras de a ciência avançar nesse terreno são as pesquisas com animais – e nesse aspecto os sinais são promissores. Há um mês o laboratório americano Vet-Stem, instalado na Califórnia e especializado em medicina regenerativa, oferece um procedimento baseado em células-tronco para tratar artrites, fraturas e ligamentos rompidos em cachorros e gatos. A técnica consiste em extrair células-tronco do tecido gorduroso dos próprios animais doentes e depois aplicá-las na área afetada por meio de injeções (veja o quadro). As células, segundo artigo científico publicado pela clínica na revista Veterinary Therapeutics, agem como organismos regeneradores que ajudam o corpo do animal a se recuperar sozinho. "Como as células-tronco pertencem ao próprio animal, não há perigo de rejeição", disse a VEJA a veterinária Julie Ryan Johnson, vice-presidente da Vet-Stem. Até agora, 250 veterinários de vários estados americanos foram treinados pelo laboratório e realizam o tratamento em seus consultórios. Em 70% dos casos, alcançam-se resultados total ou parcialmente satisfatórios. O preço do tratamento vai de 2 000 a 5 000 dólares, dependendo da gravidade da lesão e do número de aplicações de células-tronco necessário.
Desde o início dos anos 90, várias universidades americanas estudam as possibilidades terapêuticas das células-tronco retiradas de tecido gorduroso. Entre os cientistas, a repercussão do tratamento feito pela Vet-Stem foi positiva. Em geral, eles consideram que o uso de células-tronco retiradas da gordura pode um dia ser estendido aos humanos. Mas há um longo caminho a seguir antes que isso seja possível. "Ainda não sabemos por que às vezes as células-tronco da gordura funcionam e às vezes são inúteis", diz Darwin Prockop, diretor do centro de terapia genética da Universidade Tulane. Naturalmente, as experiências com animais envolvem muito menos aspectos controversos do que aquelas com seres humanos. Os animais tratados pelo laboratório da Califórnia ainda atuam, em parte, como cobaias.
Cliquem na figura acima para ampliar e leiam a matéria completa na página: http://veja.abril.com.br/130208/p_092.shtml
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Coleiras high-tech e pets em avião
REPORTAGEM PARTE 1 = COLEIRAS HIGH-TECH
A coleira de um cão é um apetrecho bastante simples, certo? Nem sempre. Os modelos a seguir pertencem a uma nova safra de acessórios tecnológicos – e extrapolam em muito as funções de uma mera coleira. Os especialistas avaliaram dois recentes modelos à venda:
MODELO 1: Coleira com GPS
=> Como funciona: vem com um GPS, cuja promessa é localizar o cachorro perdido em 2 500 cidades brasileiras e em quaisquer outras no exterior onde haja sistema GSM. Na coleira também fica instalado um chip de celular, por meio do qual a informação é enviada a um site. Lá o dono fica sabendo do paradeiro de seu cão – e ainda pode refazer seu trajeto até chegar àquele ponto
=> Comentário: o aparelho funciona como o prometido, com uma ressalva: a bateria dura só três dias
=> Marca: Find Me (até então, a única coleira com GPS vendida no Brasil)
=> Preço sugerido pelo fabricante: 2 000 reais
MODELO 2: Coleira com celular
=> Como funciona: o aparelho fica embutido na coleira e está programado para atender automaticamente a um chamado do dono – e só dele
=> Comentário: o cachorro de fato escuta a voz do dono, mas, às vezes, sem entender de onde ela vem, vive momentos de estresse à sua procura pela casa
=> Marca: Pets Mobility (o lançamento no Brasil está previsto para junho)
=> Preço sugerido pelo fabricante: 700 reais
REPORTAGEM PARTE 2 = PETS NA CABINE DO AVIÃO
Duas empresas aéreas brasileiras permitem que cães e gatos viajem em companhia dos passageiros, na cabine. Para tal, eles precisam estar devidamente alojados em contêineres – e pagar passagem. Custa o mesmo que deixar o animal no porão. Dica de quem costuma viajar ao lado de um animal de estimação: fazer a reserva com pelo menos três dias de antecedência – apenas dois animais podem viajar na cabine ao mesmo tempo.
Leiam a matéria completa na página: http://veja.abril.com.br/230408/p_114.shtml
terça-feira, 22 de abril de 2008
Bons modos no mundo animal
Móveis riscados, um tapete alagado e aqueles dias em que cães e gatos amanhecem intratáveis são algumas das situações que todo dono de um desses animais já enfrentou – mas nem sempre soube como resolver.
Ao repreenderem seu bicho de estimação, as pessoas erram, basicamente, quando partem para o grito e apelam para a força bruta. Isso não surte nenhum efeito positivo. O que funciona para lapidar os modos de caninos e felinos é a paciente aplicação de um conjunto de medidas baseadas em alguma psicologia – e bastante treino. Sobre elas, VEJA ouviu três especialistas: Victoria Stilwell, apresentadora do programa da TV inglesa Ou Eu ou o Cachorro, retransmitido no Brasil pelo canal GNT; a veterinária americana Mieshelle Nagelschneider, especialista em comportamento de gatos pela Universidade Harvard; e o adestrador Alexandre Rossi. Eles concordam num ponto básico – e, de certo modo, alentador: é melhor começar a educar cães e gatos desde cedo, mas, mesmo para aqueles de mais idade, sempre há solução. A seguir, as sugestões do trio.
Buda (Bernese Mountain Dog da foto acima) era um cão ansioso: passeios ao ar livre melhoraram a situação.
PROBLEMA 1: o cachorro faz os cômodos da casa de banheiro
=> O erro mais comum dos humanos: ao flagrar as necessidades fisiológicas do cão depositadas no tapete da sala, gritar e ainda puni-lo com palmadas. O efeito é zero, uma vez que o animal não capta a razão do castigo.
=> O que recomendam os especialistas: passear na rua com o cão – se der, três vezes por dia (ôpa, ôpa, ôpa, olha o perigo! Quem quiser que o cachorro faça xixi *somente* na rua não tem essa opção de "se der". Olhem que 3 vezes ainda é pouco! O cachorro *precisa* fazer as necessidades várias vezes por dia e, dependendo da idade e do tamanho do peludo, de 4 a 6 vezes é o ideal). Ele costuma fazer pipi pela casa justamente por estar privado de uma rotina ao ar livre. Outra medida de sucesso é eliminar os obstáculos entre o cachorro e seu próprio "banheiro". Às vezes, ele não chega lá por dar com o focinho numa porta fechada (outro motivo muito comum, mas não citado da reportagem, é o xixi de marcação de território).
=> Tempo para resolver o problema: três meses. Se passar disso, é bom conversar com um veterinário sobre a possibilidade de uma incontinência urinária.
PROBLEMA 2: o cão faz o dono – ou quem mais aparecer por perto – de pula-pula
=> O erro mais comum dos humanos: repreendê-lo com gritos. Quando pula, afinal, o cachorro busca atenção – e é justamente o que o dono estará lhe dando ao esbravejar. Para piorar o cenário, o cão ainda se sentirá estimulado a seguir com a brincadeira.
=> O que recomendam os especialistas: ignorar as acrobacias, mesmo que isso traga algum incômodo, e só voltar a falar com o cachorro quando ele aterrissar as quatro patas no chão. Se o cão insistir com os pulos, castigue-o com momentos de clausura.
=> Tempo para resolver o problema*: quinze dias (a reportagem original mostra um asterisco nesse quesito, mas não encontramos na versão online da Veja a explicação. Caso algum de vocês leitores tenha acesso à revista impressa, por favor envie um e-mail para sandra@lordcao.com.br com um scan ou uma foto da página referente à essa reportagem).
PROBLEMA 3: latidos em alto e bom som – noite e dia
=> O erro mais comum dos humanos: gritar com o cão
=> O que recomendam os especialistas: o cachorro late, antes de tudo, para chamar atenção e se sentir no comando do território que o cerca. O desafio aqui é mostrar que, com os latidos, ele estará mais distante de tais objetivos. Daí a tática de lhe dar um gelo. Quando o cão se aquietar – e ao ser ignorado isso sempre acontece – a estratégia é premiá-lo com algo comestível ou uma brincadeira qualquer. O objetivo é estimular o tão almejado silêncio fazendo o cachorro associá-lo a um bom momento (outro sinal vermelho aqui: se o motivo do latido for estresse ou ansiedade de separação, ser ignorado *não vai* fazer o cão se aquietar! No caso do estresse, o cão precisa de distrações: brinquedos e passeios. No caso da ansiedade, ele precisa aprender a ficar sozinho. Vejam mais detalhes no nosso site http://www.lordcao.com.br).
=> Tempo para resolver o problema: um mês.
Onde encontrar mais respostas sobre o comportamento de animais domésticos: http://www.caocidadao.com.br (do adestrador Alexandre Rossi); http://www.victoriastilwell.com (da inglesa Victoria Stilwell, especialista em cães); e http://www.thecatbehaviorclinic.com (da americana Mieshelle Nagelschneider, especialista em gatos pela Universidade Harvard).
Leiam a matéria completa, que inclui 3 problemas comuns em gatos, na página: http://veja.abril.com.br/230408/p_112.shtml
Cães clonados começam treinamento
Um programa de clonagem apoiado pelo governo da Coréia do Sul deu origem aos primeiros cães farejadores clonados do mundo (para quem não lembra, o primeiro cão clonado foi Snuppy, da raça Afghan Hound). Apresentamos na foto abaixo Toppy, Toppy, Toppy, Toppy, Toppy e Toppy, 6 cães clonados... até no nome. No final de 2007, nasceram 7 cãezinhos clonados em Incheon, na Coréia do Sul, filhos de 3 mães substitutas. Mas apenas estes 6 da foto passaram na primeira fase dos testes de comportamento e qualidades genéticas, e agora só precisam do treinamento específico para encontrar objetos e substâncias suspeitas em bagagens e cargas.
Os bebês são cópias exatamente iguais do seu pai, um Labrador Retriever (Neste ponto nós alteramos a reportagem original, pois a mesma informava erroneamente que era um Golden Retriever. Já comunicamos o erro aos diversos sites que publicaram a matéria e alguns, seguindo nossa orientação, já alteraram para a raça correta).
Estes 6 cães já estão em treinamento no centro de adestramento na província de Gyeonggi, para se tornarem cães farejadores nos portos e aeroportos do país. Toppy, o nome dos 6 irmãos, é o diminutivo de "Tomorrow's Puppy", o que significa "Filhote do Futuro". Os cachorros estão entre os mamíferos mais difíceis de clonar, devido a seu ciclo reprodutivo. "O projeto foi um sucesso", disse o responsável pela iniciativa, Lim Jae-Yong. Segundo ele, treinar os animais clonados para farejar é mais fácil do que treinar os cães comuns.
domingo, 13 de abril de 2008
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terça-feira, 8 de abril de 2008
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sexta-feira, 4 de abril de 2008
Fica comigo - cães que sofrem sem os donos
Um cão pode morrer de saudade, sim. Literalmente. A vendedora Márcia Regina Adell que o diga. Quase perdeu seu schnauzer quando foi para os Estados Unidos. "Assim que soube que Peter foi internado, voltei para São Paulo e ele ficou novo em folha", conta. Nem é preciso ir tão longe para provocar uma crise. Basta deixá-lo sozinho em casa durante horas todos os dias. É que o animal, independentemente da raça ou da idade, encara isso como abandono. "Para o cão, que é social por natureza, ficar longe do dono é traumático, causa sofrimento", diz a psicóloga e veterinária Hannelore Fuchs, especialista em comportamento animal. E aí, não dá outra: ele interage menos, fica estressado e pode até chegar ao esgotamento nervoso. Tanta dependência é coisa séria, mas nem todos reagem da mesma maneira à ausência do dono. Poodle e yorkshire são algumas das raças mais carentes.
OLHE AQUI, PRESTE ATENÇÃO!
Se o seu amigo anda solitário e já dá mostras de apatia, abra o olho. Um simples desânimo pode progredir para depressão, falta de apetite e doenças causadas por vírus e bactérias, além de dermatite e gastrite. Sem contar outras mudanças de comportamento. "Ele simplesmente deixa de brincar ou de roer ossos. E, se ele só se alimentar quando o dono estiver em casa, a situação é grave", avisa Rossi. A saída, nesse caso, é um tratamento sério, que passa até por antidepressivos. Para evitar que a situação chegue a esse ponto, o dono deve adotar medidas diárias que aliviem a tensão do animal, como levá-lo para passear. "Estabelecer essa rotina é garantia de que vai ver outras pessoas e interagir com elas", explica a adestradora e especialista em psicologia canina Cláudia Pizzolato, da Lord Cão, no Rio de Janeiro. E nada de exagerar na atenção. Ficar 24 horas ao lado do animal também faz mal. "Ele deve se acostumar aos momentos de solidão, senão entrará em pânico quando isso acontecer", explica Rossi.
SOLIDÃO, QUE NADA
Não deixe que o isolamento faça mal ao seu amigo:
- Ter outro cão ou mesmo um gato pode aliviar o estresse provocado pela sua ausência. Antes de comprar outro pet, porém, consulte um especialista em comportamento animal.
- Uma diarista pode ser uma boa companhia, mas uma creche ou mesmo a casa de amigos ou parentes também são alternativas no caso de você precisar se ausentar por mais tempo.
- Procure sair e chegar em casa naturalmente, sem fazer alarde. Pedir desculpas antes de sair ou fazer festa sempre que volta só vai aumentar a ansiedade.
- Interaja com o cão no lugar onde ele fica preso quando está só. Sentir o cheiro do dono dá mais conforto e segurança.
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