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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dono bem-comportado... cachorro feliz

A reportagem foi matéria de capa da Veja Rio de 30 de abril de 2008, e teve a participação super especial de Cláudia Pizzolatto e Beatriz Duarte, treinadoras da Lord Cão.

Eles estão em toda parte. Segundo a Secretaria Especial de Defesa dos Animais, há 1 milhão de cachorros na cidade (do Rio de Janeiro), de mimados shitzus a pobres vira-latas – e feras de todo tipo, que podem atacar, ferir e matar. Ou seja, existe um cão para cada seis cariocas. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Município do Rio de Janeiro tem cadastradas cerca de 3 500 lojas de produtos para animais na capital. Considerando-se a população de 600 000 cães com dono, a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimento para Animais de Estimação (Anfalpet) calcula um movimento em torno de 48 milhões de reais por mês em alimentos, cuidados médicos e mimos. Os números impressionam, e cada vez mais se torna necessário que regras básicas de boa educação sejam cumpridas para que haja uma convivência saudável e, sobretudo, civilizada entre humanos e a turma de quatro patas. Veja Rio ouviu especialistas em comportamento animal e etiqueta para chegar a uma lista de dez mandamentos a serem cumpridos por quem sabe que ter um bicho de estimação implica respeitar o espaço alheio, mantê-lo preso na coleira fora de casa, limpar imediatamente sua sujeira e não permitir que ele perturbe o próximo.

Roberta e Valentina no Rio Design Leblon: ter um bicho de estimação implica respeitar o próximo

1) Cachorro não é gente. Não o trate como tal

Que eles são fofos, ninguém discute. Que dá vontade de mimá-los também é fato. "Mas é sempre bom ter em mente que cachorro é cachorro e gente é gente", diz a artista plástica Ira Etz, dona do labrador Lady e do animado springer spaniel Poker, de oito meses. "Não se pode cobrar do bicho o comportamento de uma criança, achar que ele sabe que está agindo errado quando rói um móvel, por exemplo." A adestradora Cláudia Pizzolatto, certificada pela Associação Nacional de Treinadores de Cães dos Estados Unidos, critica a tendência à humanização dos animais. "Há oferta excessiva de roupinhas, coleiras, brinquedinhos, e ao mesmo tempo existem expectativas injustas que podem dar um nó na cabeça do bicho", afirma Cláudia. "Ele precisa de espaço para ser simplesmente cachorro." Um ponto em comum entre crianças e bichos é a necessidade de limites claros. "Os animais se tornam neuróticos de acordo com a personalidade de seus proprietários", explica o especialista em comportamento animal José Pereira. "Devem ser tratados como amigos, nunca como filhos." Passar o tempo todo no colo do dono, por exemplo, não é bom para a saúde psicológica do bicho. "Há pessoas que, quando entram em casa, ficam grudadas no animal o tempo inteiro", aponta a adestradora Beatriz Duarte. "Quando elas saem, o cão chora por se sentir abandonado. É preciso estimular sua independência."

Ira Etz e Poker: paparicos e limites para travessuras

2) Imponha limites. Há espaço para um líder: ou ele ou você

Não existe democracia no mundo dos cachorros. Existe hierarquia. Se não enxergam um líder na matilha ou percebem sua fraqueza, eles tentam assumir esse posto. "É necessário deixar claro quem é que manda na casa", afirma a adestradora Beatriz Duarte, da Lord Cão. "Ao subir no sofá, o bicho tem de saber que está subindo porque o dono permitiu." Quando os limites não são traçados com clareza, a agressividade muitas vezes se volta contra o próprio dono. "Ele pode rosnar e até morder. Para o animal, é uma forma de correção." Não adianta empregar um tom tatibitate de quem fala com uma criança, o mesmo usado para fazer agrados. "O cão não entende o que você diz a ele, apesar de algumas pessoas terem essa convicção", explica In Coelum Perdigão, consultora, criadora e juíza de concursos de cães de raça. "Adote um tom firme e diferente do normal na bronca." Ela só funciona se for dada imediatamente. "Ralhe na hora certa, mas principalmente recompense o bom comportamento", acrescenta In Coelum. "As pessoas tendem a exagerar nas punições. É melhor exagerar na festa." O bicho pode ter liberdade para circular por toda a casa, mas deve respeitar o espaço dos moradores.

3) Adestre seu bichinho

O filhote bagunceiro não vai adquirir rudimentos de boas maneiras espontaneamente. Aos três meses, com a vacinação completa, ele está pronto para começar a ser educado. "No início, as lições se voltam para o dono. São conselhos sobre o que ele deve esperar de sua relação com o cão e como ela deve ser", diz Janildo Santana, dono da empresa Passeio Bom para Cachorro, com setenta clientes de quatro patas. "Desde cedo, é importante que o filhote conheça outros cães e outras pessoas para se socializar." As aulas acontecem sempre na presença do dono e os ensinamentos devem ser postos em prática diariamente. "Mais do que ensinar comandos como ‘senta’, ‘junto’, ‘deita’, ‘fica’, o objetivo é ajudar os dois a se entenderem", afirma Cláudia Pizzolatto, que comanda a escola de treinamento Lord Cão. O treinamento básico leva de dois a seis meses, tempo em que o bicho aprende a não roer os móveis, não pular em cima das pessoas e se acostumar com o barulho de carros. Uma das partes mais críticas da educação canina, para os donos, é ensinar o animal a fazer as necessidades no lugar certo. "Festeje quando ele acertar. Mostre o lugar certo quando ele errar, mas nada de esfregar o focinho dele na sujeira", indica a instrutora Beatriz Duarte. Algumas vezes, os donos procuram as aulas quando o problema já está criado. A publicitária Ana Cláudia Villaça precisou de ajuda para controlar os latidos de Ice Cube, seu cocker spaniel. "Ele latia sempre que eu saía. Os vizinhos reclamavam", conta. Com as aulas e muita paciência, em seis meses Ice tornou-se menos ansioso e menos barulhento.

A adestradora Beatriz e seus "alunos": os cães precisam saber quem manda na casa

4) Praia e calçada são públicas, não privadas

Por maior que seja a tentação de levar o amigão para aproveitar o espaço e a liberdade, praia não é playground de cachorro. Ostensivamente desrespeitada, a Lei Municipal nº 20225/2001 determina que cães não podem transitar na areia em horário nenhum, com exceção da Praia do Diabo, no final do Arpoador – mesmo assim, devem estar com coleira e guia. Na manhã ensolarada do último dia 17, Veja Rio encontrou uma variedade de cães de pequeno, médio e grande porte se esbaldando nas areias de Ipanema, na maioria das vezes sem coleira. Soltos, longe dos donos, os bichos com freqüência fazem o que não devem na areia. "As fezes de qualquer animal contêm bactérias", diz a veterinária Christianne Moll. "Contaminam o ambiente, causam doenças e favorecem a proliferação de insetos." Existem doenças, como a ancilostomose, que podem ser contraídas por humanos ao pisarem no chão contaminado. Sem falar da chatice que é estar relaxando no sol e levar uma chuveirada de areia de um cão mais saliente. Uma das regras básicas da boa convivência entre donos de cachorro e o resto do mundo é recolher a sujeira que ele deixa pelo caminho. Outra lei municipal, a de nº 3273/2001, estabelece multa de 50 reais para o dono ou acompanhante que não fizer a limpeza dos dejetos. Entre 2001 e 2007, houve apenas 26 notificações por escrito e uma única multa aplicada em uma reincidente dona de totó da Rua Rainha Elizabeth, em Copacabana.

Ipanema: a lei que proíbe cães na praia é ignorada; no Jardim Botânico, associação de moradores distribui adesivos em campanha contra a sujeira

5) Na rua, só com coleira, guia e focinheira (quando necessária)

Por mais que o cão pareça bem-comportado, nunca se devem dispensar a coleira e a guia de condução, acessórios previstos em lei, ao levá-lo para passear. "Os acidentes acontecem quando ele está solto", afirma a veterinária Christianne Moll. Você acha que o seu é um santo? Não há garantias de que o do vizinho também seja ou mesmo de que a natureza não fale mais alto. "Se forem machos, pode haver briga", diz a adestradora Cláudia Pizzolatto. "E uma cadela no cio pode fazer um animal habitualmente comportado perder o controle e atravessar uma rua movimentada." Donos de exemplares de raças agressivas, como pit bull, rottweiler e fila, só podem circular com seu bicho na rua se ele estiver com focinheira. "É minha responsabilidade, pois tenho um cachorro de grande porte que potencialmente pode causar mais danos aos outros", destaca Cláudia, dona da rottweiler Dharma. Na prática, poucos cumprem essa norma de civilidade e segurança. No feriado de quarta-feira passada, rottweilers passeavam perigosamente soltos na pista de lazer da Praia de Copacabana. A dona-de-casa Leonora dos Santos Marques já cansou de ter seu american staffordshire Sol confundido com um pit bull. "Quem não conhece diz que ele tem de usar focinheira", conta. Por isso, quando Sol era menor – e mais parecido com um exemplar da raça temida –, Leonora só saía de casa com os documentos do animal. "Ele é muito dócil e gentil. Mesmo assim, tem gente que morre de medo."

Leonora e Sol: manso, mas confundido com pit bull

6) Vai receber visitas? Priorize os convidados

Tudo bem, você imagina que seu cãozinho seja a criatura mais linda e fofa deste mundo. Mas ninguém é obrigado a compartilhar seu entusiasmo pelas criaturas de quatro patas. Ao receber amigos em casa, é melhor manter seu animal longe deles. "Não interessa o tamanho do cachorro nem se ele é superbem-comportado. Poucas pessoas vão achar bacana ser babado por sua mascote", diz a consultora de estilo da TV Globo Regina Martelli, dona de três gatos e de um cachorro. "Imagine o constrangimento se o bicho resolve pular em cima de uma convidada e desfia sua meia-calça ou suja um tailleur Chanel original?" A precaução vale também para os que garantem adorar cachorros. "Mesmo que seja habitualmente calmo, o animal pode identificar como ameaça algum comportamento de quem ele não conhece e reagir com agressividade", afirma a veterinária Christianne Moll. "Em uma reunião social, os convidados estão sempre em primeiro lugar", resume a artista plástica Ira Etz.

7) Respeite as regras do condomínio

Cachorro, criança, cano, carro e cobertura. Segundo o advogado Giovani Oliveira, da Schneider Advogados, escritório que cuida de 2 700 condomínios no Rio de Janeiro, esses são os cinco "C" que resumem as principais causas de conflitos na convivência entre vizinhos. Só no ano passado, foram impetradas vinte ações na Justiça contra donos de animais. A principal reclamação dos moradores é relativa aos latidos. "Se o cão vai ficar muito tempo sozinho, é aconselhável deixar brinquedos e atividades estimulantes", diz a adestradora Beatriz Duarte. "O latido muitas vezes é um sinal de que o animal está entediado." Ela sugere, por exemplo, que se escondam brinquedos com petiscos pela casa, o que estimula a curiosidade do bicho. Respeitar as normas dos condomínios também ajuda a evitar dores de cabeça. Em alguns prédios é proibido circular com animais de médio e grande porte pelas áreas comuns sem coleira nem guia. Em outros, eles são obrigados a usar o elevador de serviço. A boa educação recomenda que, caso haja outras pessoas no elevador, o dono não entre com o animal. "Se for possível, a circulação deve ser feita pelas escadas. É bom para o cão e para o dono", propõe a veterinária Christianne Moll. "Tempos atrás, a convenção do condomínio era considerada uma regra absoluta e tinha até o poder de proibir a presença de animais nos apartamentos", explica o advogado Oliveira. "Hoje, a interpretação é que essas regras não podem interferir no direito de propriedade, desde que os animais não tragam transtornos à coletividade."

Giovani Oliveira: 20 ações na Justiça por causa da presença de cães

8) Pense dez vezes antes de levá-los a shoppings e restaurantes

Lugares freqüentados por muita gente exigem cães bem-educados e socializados, acostumados com barulho, a presença de estranhos, outros animais e movimento. Por boa educação entenda-se não latir, não rosnar nem pular nas pessoas. Isso pode até ser engraçadinho se vier de uma miniatura yorkshire, mas é francamente perigoso se o autor for um estabanado golden retriever pesando mais de 40 quilos. Os shoppings Rio Design Leblon e Barra permitem cães de pequeno e médio porte em suas galerias e mantêm equipes de limpeza de prontidão para resolver qualquer acidente. Outros centros de compra toleram bichinhos quando circulam dentro da bolsa de seu dono. A empresária Roberta Steinberg freqüenta diariamente o Shopping da Gávea com a shitzu anã Valentina. "Ela é educadíssima. Fica tão quietinha na bolsa que as pessoas pensam que é de pelúcia", diz Roberta. Uma vez por semana, Valentina acompanha Roberta em suas idas a um restaurante japonês. Alguns estabelecimentos, com varandas ou áreas abertas, autorizam a entrada de animais. Mesmo assim, não esqueça, eles devem ficar no chão, amarrados à guia, e não podem de jeito nenhum tentar participar da sua refeição ou, pior, aproximar-se dos pratos de seus vizinhos de mesa.

9) Mantenha o animal bem tratado

O melhor amigo do homem merece ser muito bem cuidado e tratado, o que requer disponibilidade financeira, emocional e de tempo. Vacinação em dia é o mínimo que um dono responsável deve garantir a seu bicho de estimação, assim como uma boa alimentação e higiene adequada. Certas raças exigem banhos semanais e escovação diária, medida que ajuda a eliminar os pêlos mortos, que causam mau cheiro. "Escovar o cão dez vezes por dia reduz o estresse", garante a veterinária Christianne Moll. "É um hábito salutar para todos." Cuidar da saúde psicológica do totó é também lhe dar atenção, carinho e estímulos. "O cão tem necessidade de fazer dois passeios mais longos duas vezes por dia. Ele precisa ver gente, cheirar coisas e ter contato com outros cães", diz Janildo Santana, adestrador e sócio da empresa Passeio Bom para Cachorro. Aqueles que não têm disponibilidade para sair com o animal podem contratar os serviços de passeadores, os chamados dog-walkers. Uma voltinha na companhia de outros cães custa em média 20 reais, ou entre 200 e 300 reais por mês. "Cachorro feliz é cachorro cansado", afirma a adestradora Beatriz Duarte.

Santana e seus "clientes": cachorro precisa passear e ver gente

10) Guarde para você pérolas como: "Ele é mansinho. Só vai te cheirar"

Nem todo mundo se sente à vontade na presença de animais. Há pessoas que têm medo do mais mimoso cãozinho de colo. Estão em seu pleno direito. "É desagradável ouvir que o cão não faz nada ou que vai apenas cheirá-lo", diz a consultora de estilo Regina Martelli. "Ninguém tem obrigação de gostar de bichos." Várias pessoas se assustam perto deles. E freqüentemente com toda a razão. "O maior número de mordeduras acontece na própria casa e com animais de pequeno porte", explica a veterinária Christianne Moll. Vale a pena lembrar que, no reino da bicharada, tamanho não é documento. Cães pequenos também têm uma boca cheia de dentinhos afiados. "Em muitos casos, quando o cachorro é grande, as pessoas costumam ter uma relação mais respeitosa", constata a adestradora Beatriz Duarte, dona de uma imensa – e pacata – rottweiler. Quem tem um totó que costuma estranhar desconhecidos deve avisar logo aos que se aproximam, especialmente se forem crianças, que muitas vezes tratam o animal da mesma forma despreocupada com que lidariam com um bichinho de pelúcia.

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