Tem humano que é cego. Os adestradores avisam: quanto mais o dono mima, mais o cachorro manda nele. E ainda dá risada.
Eles são mimados, incoerentes, indisciplinados e não conseguem seguir regras. Estão dispostos a qualquer coisa para conseguir amor incondicional, inclusive a entregar o sofá, a cama, a casa e o controle total de suas vidas. Esse é o retrato que emerge de boa parte dos donos de cachorros quando se fala com conhecedores dos segredos mais íntimos da relação entre humanos e caninos: os adestradores. Desde que os cães saíram do quintal e entraram para a família, o adestrador é a última esperança dos donos de sapatos de grife destruídos, móveis de design irremediavelmente roídos, tapetes orientais malcheirosos e de vizinhos furiosos. "Um dos grandes problemas que nós enfrentamos é o temperamento dos donos. A maior parte tem cachorro só para mimar. Eles sabem o que precisam fazer, mas amolecem", constata o adestrador paulista Alexandre Rossi. "É comum o dono passar o dia inteiro fora de casa, sentir-se culpado de deixar o bicho sozinho e não repreendê-lo quando vê algo errado", concorda seu colega José Roberto Júnior. É aí que o adestramento desanda e, em casos extremos, a casa cai.
Não é realmente fácil ter disciplina, espírito de liderança, autoconfiança e eventualmente até um certo rigor para não ceder às chantagens emocionais que os caninos aprendem rapidamente a fazer, mesmo quando se recusam a seguir um comando. Todo humano responsável por um canino conhece a lição número 1, mas não custa repeti-la. "Cachorros viviam em matilhas. Eles precisam ter claro quem é o líder para respeitá-lo. E vão testar essa liderança no dia-a-dia", explica Alexandre Rossi. E a número 2. "O cachorro obedece por troca, seja para evitar, seja para ganhar alguma coisa. Quem não souber lidar com esse acordo não será obedecido", ensina.
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Quem não consegue conciliar disciplina com afeto deve ter em mente que os cães se sentem felizes quando se encaixam na ordem natural das coisas (a matilha, lembram-se?) e cumprem seu papel. Eles também precisam de rotina e de ocupação, como passear na rua, com guia, ou se jogar no imemorial passatempo de correr atrás da bola. "Para quem não tem tempo, quinze minutos jogando bolinha para o cachorro todo dia já melhora a qualidade de vida dele", aconselha o adestrador carioca Elber Martins do Nascimento. Também faz parte das regras de disciplina não dar comida ao cão à mesa durante as refeições (se achar que merece um petisco, dê no quintal ou na área de serviço) e não deixar nenhuma sujeira ocorrida sob seus olhos passar em branco (depois do acontecido, não adianta brigar – o bicho não saberá relacionar as coisas). Em resumo: dono de cachorro precisa mostrar quem manda, e mandar do jeito certo. "Ele tem de participar da maioria das aulas e pôr os comandos sempre em prática, senão é dinheiro jogado fora. Perder tudo o que foi ensinado leva menos de um mês", diz Rossi.
(A figura abaixo é um resuminho nota 10, que foi publicado nessa mesma reportagem. Vamos colocar em prática, OK pessoal? Cliquem na figura para ampliar.)
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