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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Pit bulls: a natureza da fera

A reportagem foi matéria de capa da Superinteressante edição 140 de maio de 1999. Achamos apropriado colocar essa matéria logo após o post sobre a proibição da eutanásia nos cães.

Eles são apenas 10 000 entre os 20 milhões de cães do país (lembrem-se que esses dados são de 99). Não passam de 55 centímetros de altura, mas criam pânico nas ruas. "Deve haver umas cinqüenta mordidas de pit bulls por ano", estimou à SUPER Francisco Araújo, gerente do Controle e Vigilância de Fatores Biológicos da Fundação Nacional da Saúde. É muito pouco se considerarmos que há mais de 400 000 acidentes anuais desse tipo. Mesmo assim, os pit bulls apavoram, e não é à toa.

A lista de ataques de cachorros em que as vítimas saem retalhadas ou mortas é liderada por essa raça impetuosa. Eles são bravos porque foram programados para brigar até vencer. "Pit bulls tendem a morder sem avisar e não soltam a vítima sozinhos", disse à SUPER a veterinária Ilana Reisner, da Universidade de Cornell. Mas é provável que a fama de monstro seja tanto culpa dos animais quanto de quem os treina para atacar.

"Cães violentos estão sendo cada vez mais usados como armas de fogo. Eles refletem o aumento da violência na sociedade", diz à SUPER Randall Lockwood, pesquisador de comportamento animal da Sociedade Humanitária dos EUA. Afinal, os pit bulls, que entraram no Brasil só em 1988, não são os únicos violentos. Outro cão feroz, o rottweiler, pulou de 17 000 registrados no país em 1996 para 26 000 em 1998. "Além do mais, pit bulls e rottweilers bem-educados não saem mordendo", diz a veterinária paulista Hannelore Fuchs.

Algozes ou vítimas, o fato é que o constante aumento de ataques bestiais contra seres humanos vem convencendo muitos países a banir pit bulls e cães violentos de seus territórios. Desde 1991, eles já foram proibidos na Inglaterra, na França, na Dinamarca, na Holanda, na Noruega, na Bélgica, em Porto Rico e em várias cidades do Canadá e dos Estados Unidos. Chamada a se pronunciar, a ciência comprova que a raça é mesmo especial, mas muita coisa só começou a ser investigada agora. "Quanto da agressividade é genética ainda não sabemos", diz a veterinária Sharon Crowell, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos. "Mas, estatiscamente, os pitt bulls são os mais brutais."

=> Cruzamento gerou besta de arena

A relação do homem com o cão tem, no mínimo, 14 000 anos. "Datam desse tempo os primeiros ossos de cachorro enterrados juntos com gente, em Israel", conta o veterinário paulista Mauro Lantzman. "A associação com os humanos aumentou a reprodução dos mais mansos." Primeiro, os descendentes dos lobos se aproximaram para comer restos de comida, sendo capturados. Domesticados, passaram a ajudar na caça e na defesa das tribos.

Sob o comando de homens pré-históricos, os filhotes amansados passaram a reconhecer os humanos como parte da sua matilha, respeitando-os com o mesmo senso de hierarquia adquirido na convivência com o bando. Aí começaram os cruzamentos seletivos que deram origem às mais de 200 raças de cães que conhecemos hoje. Boa parte delas mudou tanto que não sobreviveria na natureza. Muitas por serem agressivas demais.

É o caso dos pit bulls. "Sua história começou na Inglaterra, no século XVIII, quando espetáculos semelhantes às touradas eram muito populares", contou à SUPER Marcus Rito, do Kennel Clube de Brasília. Musculosos e de focinho curto, os bull dogs, como diz o nome em inglês, lutavam com touros. Mordiam o focinho deles e não largavam. Poucas atrações divertiam tanto os ingleses até 1835, quando foram proibidas e substituídas pelas lutas de cães.

Para isso, os bull dogs, pouco ágeis, não serviam. Foram então cruzados com os terriers, o que gerou os bull terriers, ancestrais diretos dos pit bulls. "Não temos certeza sobre todas as raças que constituíram as características do pit bull. Temos algumas hipóteses só", diz o criador paulista Wagmar de Souza, primeiro importador de pit bulls no Brasil.

"Além de coragem, força e agilidade, a rinha de cães requer visão frontal, resistência à dor e ataques de surpresa, de modo imprevisível", explica Lantzman. Privilegiando tais aspectos, muitos criadores cruzaram campeões até gerar feras implacáveis. Como cada um seguiu sua própria receita, os pit bulls não consolidaram, até hoje, características raciais. Por isso não têm padrão definido e reconhecido pela Federação Cinológica Internacional.

=> A genética da seleção perversa

Monstros criados pelo homem? Exatamente (os bons pit bulls, aqueles que estão dentro do padrão da raça, não são agressivos sem motivo e são dóceis com pessoas, mas não gostam de outros cães. Os maus pit bulls, os que aparecem na mídia, são em parte devido aos cruzamentos indiscriminados, que propagam características indesejáveis, e em parte devido ao tratamento incorreto que é dado aos animais. De uma forma ou de outra, a culpa pela existência dos maus pit bulls é do homem, assim como existem maus rottweilers, filas, cockers, poodles, pinschers, etc.). Graças à seleção artificial o pit bull é um animal feito para brigar. "Sabemos que a agressividade tem um forte componente genético porque ela já se manifesta em filhotes", explica Randall Lockwood (em outras palavras, os pais passam a agressividade para os filhos. Cães agressivos, ou com quaisquer outros desvios de temperamento, ou com quaisquer características físicas que os afastem do padrão da raça, não devem cruzar). Os cientistas têm três hipóteses sobre a origem da ferocidade dos pit bulls.

A primeira decorre da constatação de que a maioria dos ataques fatais observados nos Estados Unidos, onde há estatísticas precisas, foram dirigidos a crianças em primeiro lugar e a idosos em segundo. "Nesse caso, eles estariam agindo como predadores, atacando os indefesos para comer", afirma Sharon Crowell.

Outra pesquisa descobriu nos pit bulls deficiência de serotonina, o neurotransmissor responsável pela estabilidade emocional dos animais. "Os cães que atacam sem avisar são mesmo desequilibrados, em parte porque têm baixos níveis de serotonina", explicou à SUPER a veterinária Ilana Reisner. "É preciso agora descobrir se isso é válido para todos os pit bulls ou somente para os agressivos." Segundo ela, nada garante que, ao cruzar animais ferozes, os criadores tenham determinado que a agressividade se volte apenas contra cães. Ou seja, o ímpeto pode se descontrolar e atingir qualquer alvo, inclusive seu proprietário.

A terceira hipótese estuda a seleção do temperamento. Buscando produzir cães de rinha, os cruzadores teriam eliminado dos pit bulls dois comportamentos normais entre cães e lobos: advertir antes de atacar e cessar o ataque quando o adversário se rende. "Isso produz cachorros com uma ferocidade que não tem cabimento nem na natureza, pois é desprovida de sentido social e hierárquico", diz Lantzman. Uma fúria bestial.

A eficácia dos cruzamentos é indiscutível. "Ela atua sobre os genes que influenciam tanto o comportamento quanto a anatomia", diz Lantzman. Portanto, cães impetuosos e programados para atacar, que têm a agressividade como padrão de comportamento inato, não podem, é lógico, ser usados como mascotes.

Feras indomáveis desde o nascimento têm de ser sacrificadas ou, pelo menos, impedidas de passar seus maus genes para a frente. "Somos favoráveis à esterilização de animais de ficha suja", disse à SUPER Crista Schroeder, vice-presidente da Sociedade Zoófila Educativa, do Rio de Janeiro. "Só assim deixaremos de obter ninhadas com características indesejáveis."

=> A culpa da cria e a culpa do criador

Para qualquer propósito, a educação dos cães pode reforçar ou atenuar a herança genética. "Sinais de agressividade são detectados cedo e corrigidos com bom condicionamento", disse à SUPER o adestrador paulista Alexandre Rossi. "Se os genes empurram ao ataque, um ambiente contrário a essa natureza reverte o quadro", diz Hannelore Fuchs. "Afinal, é o homem quem cria aberrações."

No treinamento para a briga, "é inacreditável o que fazem com os bichos", disse à SUPER Crista Schroeder. "Indivíduos que ignoram informações básicas sobre cães se dizem adestradores", protesta Rossi. "Produzem aberrações e acabam pondo toda a raça em risco de extinção", lamenta Wagmar de Souza. "A minha pit bull, a Sacha, é um doce. É grande amiga dos meus filhos."

Segundo alguns estudiosos, os pit bulls têm salvação. No Brasil, a supressão dos maus instintos está na mão dos 40 criadores sérios, registrados, entre os 200 que existem no país. "Estou concluindo o esboço do padrão do pit bull brasileiro", disse à SUPER Agnes Buschwald, presidente do Kennel Clube Paulista, uma das 2 entidades que registram a raça no país. A outra é a Associação Cinológica do Brasil, de São Paulo. "Não registramos qualquer cão", conta Buschwald. "Para receber atestado de pedigree, o animal passa por teste de temperamento. Dois juízes e um veterinário o examinam. É impossível que os mais descontrolados não se revelem."

O rigor dessa minoria de criadores sérios e a constatação de que há pit bulls e rottweilers bem-educados mudaram o projeto de lei federal que tramita no Congresso Nacional. O deputado Antonio Henrique Bueno (PPB-SP), autor da proposta, evitou legislar sobre raças e propôs normas de posse responsável para todos os cães.

"Qualquer raça está sujeita à seleção para agressividade, por isso não é justo exterminar duas delas", diz Hannelore Fuchs. Lockwood concorda: "Temos de controlar todas as raças e lutar para exterminar rinhas e não pit bulls". A justa reação da sociedade à violência de cães de briga pode estar com o endereço errado. Além da criatura, é preciso controlar o criador.

=> Não folgue comigo

Não larga: A boca se abre de uma orelha a outra. É a maior abertura entre os cães. Graças ao encaixe perfeito dos dentes, ele pode morder sem soltar. A mordida tem 200 quilos de força.

Orelha cortada: Alguns animais têm orelhas amputadas para diminuir a vulnerabilidade às mordidas dos adversários (essa cirurgia agora foi proibida).

Porte atlético: Estes atletas guerreiros medem de 48 a 55 centímetros de altura e pesam de 23 a 35 quilos. Ágeis como felinos, podem até subir em árvores. Resistentes, conseguem correr até 10 quilômetros sem se cansar.

Nariz curto: O focinho pequeno ajuda o ataque. O animal continua respirando enquanto morde. O pescoço, também curto, oferece menos superfície de ataque aos inimigos.

Massa bruta: Eles são fortes o bastante para arrastar objetos de até 950Kg em competições. O equivalente a um carro como o fusca.

Olhar incisivo: Os olhos têm um ângulo de visão restrito. Fixam o olhar no alvo no momento do ataque. Ele não vê mais nada.

=> Treinamento para o bem e para o mal

Socialização: Filhotes entre 2 e 4 meses devem circular muito e ser socializados (quanto mais, melhor). Têm de entrar em contato com outros cães e com membros da família e da vizinhança (e com outros animais, pessoas, sons, cheiros e superfícies de todos os tipos, tamanhos, cores e formas). Assim, saberão distinguir conhecidos de intrusos.

Boas maneiras: Desde pequenos, os animais devem aprender a obedecer a todos na casa, do mais velho ao mais novo, independentemente de quem seja o dono (treinamento de obediência não é uma opção, é uma obrigação para todos os donos de cães de temperamento dominante). Devem ter horário para comer. É bom evitar brincadeiras violentas e disputas que ele vença (cabo-de-guerra, nem pensar).

Afeto e carinho: Cães não devem ser acorrentados. Mas também não podem se achar os donos do pedaço. Mesmo que tenham um temperamento difícil, o uso de violência física tem de ser evitado. O cachorro pode interpretar movimentos bruscos como agressão (e o dono que quiser se manter como o líder para o seu cão só o fará se impuser respeito, e não medo).

=> Contratando um matador

Malhação: Cães de briga como os pit bulls costumam ser submetidos a exercícios físicos para ganhar força e velocidade. Usam-se equipamentos semelhantes aos de academias de musculação, como esteira e dilatadores do peito. Preparam-se assim para lutas de longa duração.

Isolamento: Os treinadores confinam os animais em cubículos pequenos, impedindo-os de se socializar com outros cães. Exibem-lhes água e comida que não podem alcançar. Tornam os bichos famintos e ansiosos.

Calibre grosso: Alguns cães de briga são submetidos a sessões de ginástica que parecem tortura. Costumam ficar dependurados em pneus pela boca para exercitar o músculo da mastigação.

Sede de sangue: Propositadamente, os adestradores atiçam o instinto predatório dos seus "atletas" atirando cachorros, gatos e galinhas vivas para serem mortos e devorados.


Leiam a matéria completa nesse link.

Um comentário:

  1. oi,estou enviando um depoimento falando sobre a shena q e um pitbull,

    Pq é uma raça muito discriminada. E passear na rua com ela é complicado pq todas as pessoas se desviam e dizer... "que cão feio" e "não mexas no cão que ele é mau", ela adora pessoas e festinhas, acho q ela pensa " não tenho é culpa do que os outros fazem".
    Conheça e tenha contato com um Pitbull e verás q é a melhor raça do MUNDO.
    A Shena é um cachorro guerreiro , dócil, obediente. é como dizem , o cão é a imagem do dono .
    Dentre várias raças que já tive o pitbull é o mais dócil, o mais companheiro. Me encantei com a raça e não admito quando falam mal. Se um pitbull ataca a culpa é do dono. Porque não vejo a menor possibilidade da minha pitbull atacar.

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