Do site da Superinteressante, uma revista que eu adoro. A matéria saiu na edição 191 de agosto de 2003, e apesar de já fazer tanto tempo, infelizmente o assunto continua tão atual quanto na época da publicação.
O apelo é infalível. Você olha para o filhote indefeso em uma jaula apertada ou no porta-malas de um carro estacionado em uma praça e não resiste. Movido pelo desejo de tirar aquele animalzinho de um ambiente tão inóspito e insalubre, você acaba comprando o bichinho. E pode estar cometendo um grande erro. Cada vez que alguém cede a esse apelo, sem saber, está alimentando a indústria de animais de estimação, cujos bastidores revelam uma exploração cruel. Impulsionados pelo lucro fácil, criadores irresponsáveis multiplicam-se em feiras de shoppings, parques, praças e beiras de estrada e são fornecedores habituais de lojas de venda de animais de estimação.
Os inconvenientes da criação em série são muitos. As fêmeas reprodutoras, por exemplo, são postas para cruzar a cada cio e, para evitar despesas, não recebem alimentação e alojamento adequados e muito menos cuidados veterinários. Em muitos casos, quando perdem a capacidade reprodutora, são simplesmente sacrificadas. É muito comum também o cruzamento de animais de mesma linhagem, o que provoca problemas de saúde hereditários.
Muitos cães são forçados a passar toda a vida em alojamentos superlotados. Esse tipo de criação provoca estresse e derruba as defesas do organismo do animal, favorecendo o aparecimento de doenças como cinomose, parvovirose e tosse dos canis, síndromes fatais com períodos de incubação de sete dias. Comerciantes e criadores inescrupulosos apressam a venda dos animais para que os sintomas apareçam já sob a responsabilidade do novo dono. Quando a compensação ao consumidor insatisfeito é inevitável, geralmente se oferece um novo filhote, garantia típica para produtos com "defeito de fábrica". A diferença é que, nesse caso, o produto defeituoso é um ser vivo, e o destino de um animal doente invariavelmente é o descarte, ou seja, o sacrifício.
Mas nem sempre as doenças se manifestam em curto prazo. A displasia, causada por um desajuste entre o osso da bacia e o da coxa, leva até oito anos para apresentar sintomas e é um dos males mais comuns entre raças de cachorros de grande porte (Não só de grande porte, qualquer cão de estrutura pesada está sujeito à doença). Hereditária, a doença progride sem ser percebida e, em estágio avançado, priva o animal de movimento e provoca muitas dores. A única maneira de diagnóstico é pela radiografia, feita depois do primeiro ano de vida do animal (Isso foi em 2003. Não tenho bem certeza, mas me parece que agora já conseguem detectar a doença mais cedo. A displasia pode ser tratada e os sintomas aliviados, mas é uma doença degenerativa, ou seja, piora com o tempo, e não tem cura). Caso detectado o problema, é recomendado que os animais (todos os que tiverem a doença: o pai e a mãe inclusos, além dos filhotes afetados) parem de reproduzir e retransmitir a doença, sugestão que muitos criadores simplesmente ignoram.
Cobrar das autoridades o controle desse mercado é um trabalho árduo. Sim, o país possui legislação que proíbe a crueldade com animais, mas a negligência e os maus-tratos para com cães e ninhadas por parte dos criadores raramente são punidos. Sem dúvida seria ótimo se os órgãos de saúde fiscalizassem o funcionamento dessas fabriquetas de filhotes, vistoriassem os mercados públicos, cobrassem a licença e os atestados de saúde veterinária obrigatórios. Mas, como isso não ocorre de forma eficaz – a multiplicação de feiras irregulares de animais está aí para comprovar –, a melhor opção é adotar medidas preventivas. Muitas cidades, por exemplo, se esforçam para reduzir a população de cães e gatos desabrigados. Os projetos vão desde a castração até o treinamento de professores para ensinar as crianças a serem mais responsáveis no trato e na posse de seus mascotes.
Para reverter esse ciclo cruel da criação e do comércio de filhotes, o papel mais eficiente é reservado aos cidadãos. Todo mundo pode fazer sua parte, sem precisar de grandes engajamentos ou protestos. Basta não alimentar o mercado da crueldade. Há várias maneiras de fazer isso. Uma delas é examinar as condições que as lojas de animais oferecem aos bichos e procurar saber se eles são provenientes de criadores responsáveis (Não concordo, não se compra animal em loja de forma alguma. Muito menos em feiras, no meio da rua, na praia, pela internet e nem pelo jornal. Já vi muita gente limpando os filhotes às escondidas, dando banho e fazendo a tosa da raça em filhotes com 30 dias, catando carrapatos e dando um aspecto superficial de saúde e higiene para expor os bichinhos aos compradores). Vale pedir o endereço para conferir pessoalmente (Não se compra cachorro das mãos de terceiros. Só diretamente do canil, vendo pessoalmente o pai, a mãe e os outros filhotes e ainda assim só se for um canil sério). E ainda assim é possível ir além. Se você deseja adotar um amigo peludo ou emplumado, é bom saber que existem muitos animais à espera de adoção, sob a guarda de entidades de proteção e centros de controle de zoonoses, precisando apenas de uma chance para viver. Antes de adotar, porém, tome duas atitudes acertadas: certifique-se de que o animalzinho tenha passado por uma triagem veterinária. E lembre-se de castrá-lo a partir do segundo mês de vida. (É isso aí! Nota 10!)
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sexta-feira, 6 de março de 2009
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