Do site da Folha Online.
Na véspera do último Natal, a família Orsi foi acordada com um telefonema nada festivo. Instalados em Itanhaém, litoral sul do Estado de São Paulo (98 km da capital), para as comemorações de final de ano, eles receberam a notícia de que o mascote, que ficara na capital, havia fugido.
Ninguém sabe explicar como aconteceu a fuga. A hipótese provável é que o poodle Puff, 2 anos, tenha pulado o muro. A ausência foi percebida pela prima encarregada de alimentar o cão. (Daí a enorme importância de se manter uma medalha de identificação permanentemente presa na coleira do peludo e, se possível, também identificá-lo com um microchip ou uma tatuagem específica para fins de registro).
Ao ser comunicada do desaparecimento, a empresária Paula Orsi, 23 anos, voltou para São Paulo. Pediu ajuda a amigos e parentes para dar início à busca. Rodaram de carro e de moto pelo bairro Imirim, zona norte, onde vivem.
No dia seguinte, ela circulou por Santana, Casa Verde e Cachoeirinha. Pessoas abordadas que reconheciam o animal da foto davam dicas de que ele caminhava em direção à rodovia dos Imigrantes, pela qual a família tinha seguido para o litoral.
A temporada de festas chegava ao fim, dez dias depois do sumiço, quando o milagre foi anunciado de novo por telefone. "Os vizinhos disseram que o Puff chorava sentado em frente de casa em São Paulo", conta a empresária, que encontrou o poodle da família sujo, magro e ferido por sarna.
Apesar da aparência, o domesticado cãozinho saiu vitorioso de uma queda-de-braço com a selva de pedra paulistana. O que explica o retorno de Puff é a capacidade que os animais têm de se localizarem utilizando os sentidos.
Cachorros têm 200 milhões de receptores olfativos, 40 vezes mais que os humanos. "Por isso, seguem rastros de pessoas e lugares depois de dias desaparecidos", explica o zootecnista Alexandre Rossi.
Os receptores caninos identificam o cheiro de árvores, rios e jardins da região onde o animal vive. Os odores somados formam uma espécie de digital aromática, específica de cada lugar, que é capaz de se espalhar pelo vento por dezenas de quilômetros. Uma vez perdidos, os animais procuram tais cheiros no ar e seguem na direção que aponta para uma concentração maior desses aromas.
Poluição desorienta
Dezenas de cães somem todos os dias em São Paulo, especialmente machos não-castrados. "Um descuido do dono e o animal foge para tentar perpetuar a espécie", explica o veterinário Marcelo Zulato. Ele sentiu na pele o pânico de descobrir que seu SRD Dunga, 8 anos, havia fugido. Teve sorte de encontrar o animal a 11 quadras de casa.
A maioria dos cães que se perdem nunca retorna. Criado em 2001, o site www.caesperdidos.com.br registrou em janeiro deste ano 450 anúncios de animais desaparecidos. Bem mais que as 217 notícias de animais encontrados divulgadas pelo site no mesmo período. "Falta sensibilidade para perceber que o animal de estimação não é objeto. É obrigação moral tentar encontrar os proprietários", diz Fábio Motta, administrador do site.
Ele confirma que sumiços de animais em época de férias ou feriados prolongados são muito comuns. "O acesso ao site chega a dobrar", constata. (Isso é em parte causado pelo pânico dos fogos de artifício, que pode melhorar bastante com as dicas da BitCão).
Em cidades pequenas e condomínios, é mais comum ver cães perdidos encontrarem o caminho de casa. A explicação é o próprio estilo de vida. "Os animais têm mais contato com o ambiente externo", afirma Marcelo, proprietário de uma clínica veterinária em Alphaville.
Morar em São Paulo não facilita a vida dos cães, pelo contrário. "A poluição atrapalha a captação dos cheiros", explica Alexandre. Nessas horas, entram em ação as orelhas direcionáveis e a audição apuradíssima dos cachorros. "Eles podem ouvir os ruídos de um estádio de futebol, de uma construção ou de um avião a quilômetros de distância", exemplifica o zootecnista.
O GPS natural é parte dos animais. Entretanto, é importante desenvolver a capacidade de localização dos pets e ajudá-los a reconhecer a região onde vivem, especialmente para quem mora em apartamento. Assim, outros Puffs paulistanos (e de outros estados também!) poderão traçar a rota na direção certa, em caso de se perderem em meio ao caos da(s) metrópole(s).
Ajustando o faro à metrópole
- Caminhe com seu animal pelo bairro diariamente
- Chame a atenção dele para placas, estabelecimentos e semáforos (faça-o cheirar esses locais)
- Estimule o faro: esconda petiscos e brinquedos pela casa e permita que o animal explore cheiros, brincando de esconde-esconde
- Evite submetê-lo a cheiros fortes, como o de produtos de limpeza e de perfumes na hora do banho
- Mude caminhos, horários e direção com frequência
- Vá cada vez mais longe de casa para que ele reconheça todo o bairro
- Mantenha o peludo permanentemente com uma medalha de identificação presa na coleira e, se possível, também com um microchip ou uma tatuagem específica para fins de registro
Puff encontrou o caminho de casa, no bairro do Imirim (zona norte de São Paulo) depois de dez dias perdido na cidade
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segunda-feira, 2 de março de 2009
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