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sexta-feira, 20 de março de 2009

Os brasileiros e a sua paixão por cachorros

Fazendo um comparativo com o post anterior: enquanto lá na Alemanha é cobrado até imposto de quem quiser ter um cachorro, aqui no Brasil o descaso é tão grande que a média de vida dos cães *que têm dono* é de apenas 3 anos! Fonte: Yahoo Notícias

Com base na quantidade de cachorros que estão espalhados por nosso território (cerca de 50 milhões), poderíamos dizer que o Brasil é um país de pessoas que adoram cães, certo? Não exatamente. Ou seja, há sim muita gente que ama cachorros e cuida deles como se fossem bebês, mas também existe um bocado de gente que os destrata e os abandona, como se eles fossem um brinquedo usado. Neste breve relatório sobre a situação dos animais no Brasil, alguns números e comportamentos mostram que os melhores amigos dos brasileiros carecem de mais cuidado.

O Brasil tem a segunda maior população canina do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (onde vivem 60 milhões de cachorros). Por aqui, estima-se que haja 31 milhões de cães com dono, ou domiciliados - segundo dados da Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação) -, mais 20 milhões que vivem nas ruas (estimativa com base em estatísticas da Organização Mundial de Saúde). Embora esses dados denotem a popularidade dos cães no país - uma em cada sete pessoas possui um cachorro -, isso não significa que seus direitos e necessidades sejam garantidos.

A falta de cuidados com os bichos reflete-se na baixa expectativa de vida dos cachorros, estimada em apenas 3 anos. Embora um cão possa viver até os 18 anos, nos Estados Unidos e Suécia a expectativa de vida deles é de 10 anos e no Japão chega a 8,3 anos. (Essa média deveria ser dividida por faixa de tamanho, já que os cães menores vivem mais e os maiores, menos). De acordo com pesquisadores da USP, Metodista, Unip e Unicsul, não só a expectativa de vida dos cães brasileiros é muito baixa, como também as causas de morte são boa parte das vezes relacionadas à falta de informação, dificuldades econômicas e negligência por parte dos donos.

Ao passo que há cada vez mais serviços voltados para o bem-estar dos cãezinhos de raça e com pedigree, os chamados pets, a procriação indiscriminada dos cães de rua ocorre de modo desenfreado - e por culpa dos humanos. (Há uma procriação indiscriminada dos cães pets também, colocados para cruzar pelos seus próprios donos). Muita gente acaba adquirindo um filhote sem pensar que, quando ele crescer, terá necessidade de comida, água, higiene e atenção. (Essa colocação não foi feliz, porque todo cachorro precisa dessas coisas, independente da idade. A frase ficaria mais coerente se a gente eliminasse o "quando ele crescer"). Quando alguém abdica dessa responsabilidade, o animal normalmente é abandonado à própria sorte, longe de um lar. Também são corriqueiros casos em que cadelas emprenham, têm filhotes em casa e, sem saber o que fazer com os pequenos bichinhos, os donos os colocam em caixas, largando-os nas praças (quando são humanos "bonzinhos", pois muitos abandonam os filhotes na rua mesmo ou em terrenos baldios). A partir daí, muitos destes bichos sobrevivem em condições precárias perambulando pelas ruas ou simplesmente morrem. O que mais mata os cachorros são as doenças infecciosas (35%), como cinomose e parvovirose, que poderiam ser facilmente evitadas com vacinas. As neoplasias, ou tumores, que costumam encabeçar essa lista em outros países, aqui caem para o segundo lugar.

Este quadro indica dois fatores importantes sobre a situação dos cães no país. Um deles é a pouca eficácia dos programas de vacinação e controle de natalidade. "Essas doenças são como aquelas que nós pegamos na infância: comuns e facilmente evitadas com vacinas. No entanto, esse alto número mostra que não estão sendo tomadas as medidas necessárias", afirma o professor da Faculdade de Veterinária da USP, Enrico Ortolani.

Outro indício é que muitos dos donos de cães não se responsabilizam pelo bem-estar do animal. Embora não praticar a 'Posse Responsável' - ou seja, assegurar os direitos do animal, como integridade física, cuidados médicos e alimentação - seja considerado crime ambiental, a consciência dessas obrigações ainda é pouco disseminada. O maior exemplo disso é o alto índice de abandono - só a Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis (Apasfa) recebe pelo menos 50 denúncias por dia. E para os cães que vivem nas ruas, o cenário é ainda pior. Embora os animais sem dono não tenham sido incluídos no estudo sobre expectativa de vida e causas de morte (é isso mesmo: só os cães *com* dono participaram da pesquisa), sabe-se que são bem mais suscetíveis a esses perigos.

Mudanças em vista?

Se a realidade é ruim, os defensores dos animais estão batalhando para mudar isso. Recentemente, bons exemplos estão acontecendo nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Para incentivar a Posse Responsável, evitar maus tratos, superpopulação e também a transmissão de doenças, essas duas grandes cidades conseguiram fazer com que tanto cães como gatos sejam vacinados, castrados e recebam chip de identificação antes de serem adotados. O objetivo do chip é conseguir controlar as vacinas que os animais recebem e também responsabilizar os donos por eventuais maus-tratos e abandono.

Além disso, em São Paulo nenhum animal saudável pode ser sacrificado desde o ano passado por conta de uma lei estadual, de autoria do deputado Feliciano Filho (Partido Verde). Antes dessas novas iniciativas, os Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) costumavam limitar-se ao encaminhamento desses animais para adoção ou sacrifício.

Se na sua cidade essas iniciativas ainda não foram implementadas (no Recife nem em sonho), você também pode dar o exemplo: só adotar se puder mesmo cuidar do animal, castrar seu bichinho adotado (e não adotado também!!!), freqüentar as campanhas de vacinação e não deixar de denunciar maus-tratos. São várias iniciativas que podem melhorar a situação dos cães no Brasil. Porque não basta adorar cães, é preciso participar, cuidando deles com muito carinho.

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